O RETORNO DE CASANOVA (IL RITORNO DI CASANOVA)

Mais um filme do Festival do Cinema Italiano no Brasil, de 2023, e com inegável valor artístico. Trata-se aqui, porém, de uma obra não convencional, daquelas que geralmente se enquadram na categoria de filmes “de arte”. Porque embora na verdade seja, no fundo, uma história de amor, o modo de contá-la foge dos padrões habituais, com alguma filosofia, muitas cenas oníricas, na verdade tudo moldado ao gosto e estilo do diretor, que fazendo claras referências ao grande Fellini, transmite sua mensagem fazendo um paralelo entre o “criador” e a “criatura” (com muitos e surpreendentes pontos de contato), isto é, entre a vida real do autor e o filme sobre Casanova que ele está produzindo – para talvez concorrer ao Festival de Veneza. Esse diretor, sensível e competente, é Gabriele Salvatore, que parece só se envolver em projetos originais, desde Mediterrâneo, até as produções mais recentes, como Estranhos normais, Volare, Educação siberiana. E a forma é realmente impregnada de originalidade, como as cenas da fantasia em cores e da realidade em branco e preto, os trajes peculiares dos duelistas, os jornalistas e o sabre de esgrima e muitas outras. Mas também virtude do filme é permitir que com o seu desenrolar seja possível compreendê-lo cada vez mais e então saboreá-lo de uma forma mais intensa. E ele fala sobre o tempo, sobre as gerações que se sucedem, até sobre a tecnologia que substitui os costumes e nem sempre é pacífica, mas principalmente trata de conceitos mutáveis ou não, da constatação do amadurecimento e da própria velhice e suas limitações: mas, sobretudo, do que nunca perecerá. E, a respeito dos efeitos do tempo, ninguém melhor para constatá-los do que um lendário sedutor, já sessentão, Giácomo Casanova! E ninguém melhor para ser protagonista deste filme invulgar do que o grande Tony Servillo (A grande beleza, Loro, A mão de Deus, A garota da névoa). Compõem também o elenco as belas Sara Serraioco e Bianca Panconi, Fabrizio Bentivoglio e Natalino Balasso, entre outros. A cena final é de uma elegância e de uma beleza quase indescritível. 9,0