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O DONO DO JOGO (PAWN SACRIFICE)

Robert James Fischer ou Bobby Fischer é considerado por muitos como o melhor jogador de xadrez de todos os tempos. Não há dúvidas de que foi um prodígio, que aos 14 anos foi campeão americano e à medida em que foi crescendo, na idade e na experiência, derrotou todos os grandes jogadores da época. Assim como não há dúvidas de que foi o mais polêmico enxadrista da história, pelo seu comportamento na carreira e pela conduta especial (e no mínimo excêntrica) que assumiu ao decidir, em plena Guerra Fria, em Reykjavik, capital da Islândia, em 1972, o título de Campeão Mundial, desafiando o então campeão, o russo Bóris Spassky. Fato: os russos tinham há décadas a hegemonia do xadrez no mundo e o americano, arrogante, desde antes do match, já dizia que derrotaria Spassky e que não havia no mundo quem pudesse vencê-lo. Para alguns, tais atitudes eram puro “marketing”. O filme mostra a figura de Fischer, desde criança, aficcionado pelo xadrez, passando por seu crescimento e sua ascensão no mundo enxadrístico, até chegar no referido Campeonato Mundial e os fatos que ocorreram durante essa disputa são quase inacreditáveis, incluindo exigências de alteração da sala, do tabuleiro, das câmeras, Fischer não comparecer em uma partida, ligações persuasivas para Fischer, de parte de Henri Kissinger e até do próprio presidente americano, Richard Nixon etc. Sem spoiler, embora os fãs de xadrez conheçam perfeitamente os fatos. O filme é dirigido por Edward Zwick (O último samurai, Lendas da paixão) e o protagonista no difícil papel de Fischer é o ótimo ator Tobey Maguire (O homem aranha). De mais conhecidos, Spassky é interpretado por Liev Schreiber e o Padre Bill (Lombardy) por Peter Sarsgaard, ambos também muito bons. A discussão que deriva do filme é se realmente os fatos relacionados com Fischer e com sua sanidade mental ocorreram realmente ou são fantasiosos (fruto também das polêmicas que se abriram a partir de então), por exemplo, a paranoia de ficar procurando microfones escondidos. Porque há atitudes agressivas, paranóicas, esquizofrênicas e todo o final do filme descreve os problemas como se realmente tivessem começado há muito tempo e explodido durante a disputa do mundial, dali em diante tornando Fischer quase um alienado, o que o destino que seguiu na vida pessoal parece confirmar. Os fãs divergem, bradando pelo exagero do retrato. Embora infindáveis discussões sobre os limites entre doença e temperamento ou estratégia de jogo na Guerra Fria, o fato é que esses fãs, diante das maravilhosas partidas esculpidas por Fischer, tendem a lembrar apenas de sua genialidade e do fato que o xadrez se difundiu no Ocidente na década de 70 graças aos feitos de Bobby, passando, a partir da década de 70, a atrair multidões de adeptos, virando febre nas escolas, nos clubes e nas ruas, inclusive nos EUA e no Brasil. Romantizada ou não, a figura de Fischer merece ser conhecida além do âmbito de seus admiradores e este filme parece ser o mais completo sobre o tema, embora as referidas polêmicas a respeito de alguns fatos, que na verdade somente poderiam ser confirmados (ou negados) por restritas pessoas. Filme de 2014 e que, pelo que consta, tem na Apple TV. 8,7