NOSFERATU
Antes de mais nada, cabe a advertência de que este conto gótico, em síntese, narra (mais uma vez) a história de Drácula (Orlok), o famoso Conde vampiro da Transilvânia, baseado na obra de Bram Stocker, mas também em livro que trata do personagem como Nosferatu. Mas além disso, sua concepção cinematográfica – que é realmente marcante e extraordinária, a par da tecnologia hoje posta à disposição – traz um clima pesado, sinistro, de terror/horror e pesadelo, que perdura durante todo o filme, por esse motivo não sendo algo palatável para certa parte do público. É para quem realmente aprecia o gênero e que aqui apresenta a tensão elevada a várias potências. O filme é escuro, sombrio, violento e opressivo, resultando de um magnífico trabalho de fotografia, cenários, direção de arte e de atores, direção, enfim. Certamente traz imagens espetaculares e nunca antes vistas em uma obra relacionada com esse personagem. Há cenas de uma plasticidade admirável. Suas virtudes estão realmente na forma e é algo que desperta emoções ocultas e até viscerais, com algumas cenas magníficas e próximo ao final uma delas certamente uma das mais impactantes do cinema, por sua força dentro do contexto e principalmente por sua crueza (com magníficos efeitos especiais). A construção da história foi feita com muito capricho e requinte e toda a ambientação efetivamente merece nota 10 e louros ao diretor e roteirista Robert Eggers (O farol, A bruxa, O homem do norte). Também notáveis as atuações de Bill Skarsgard e Lily-Rose Depp e se um filme se limitasse à “forma” esta obra beiraria a perfeição. Entretanto, a vastidão e a profundidade das obras literárias e também do personagem mítico acabam provocando o grande problema do filme: não se conseguiu condensar satisfatoriamente o imenso universo dos livros, a história não tem a fluidez e a coerência necessárias, o encadeamento de fatos, um desenvolvimento a contento, parecendo mais uma reunião de fragmentos para se tentar, sem sucesso, dar um sentido universal ao enredo (inclusive contando com o conhecimento prévio do público a respeito do personagem tantas vezes encenado). Falta harmonia, não se consegue arreondar o roteiro e deixá-lo a caráter, como deveria ser para se contar a lenda do vampiro mais famoso da ficção. Esse problema não é novo, pois é fato comum nas adaptações cinematográficas de obras literárias vastas e complexas. Por fim, não gostei da atuação de Nicholas Hout (apesar do esforço) e achei Willem Dafoe meio caricato. Diversão garantida para os fãs, mas o conteúdo fica a desejar. 8,5