MAIGRET E A JOVEM MORTA

Georges Simenon foi um escritor belga nascido no início do século 20 (falecido aos 86 anos na Suiça) e extremamente prolífico, sendo autor de mais de 500 romances, novelas, contos etc, inclusive sob vários pseudônimos. E criou um dos detetives mais famosos da literatura: o também belga Inspetor Maigret, que foi imortalizado em 75 novelas e 28 contos. Este filme acompanha um caso do já Comissário Jules Maigret, na França dos anos 30/40 (no estilo pode-se dizer noir), interpretado pelo também imortal Gerard Depardieu, certamente um dos maiores atores franceses de todos os tempos (Corações loucos, A mulher do lado, Vatel, Jean de Florette, 1492, Os miseráveis, Asterix, Cyrano de Bergerac etc etc). Ele parece cansado e melancólico, não caber mais no imenso corpo, o qual acena com um mal súbito a qualquer momento (e faz o personagem também velho e doente)…mas é Depardieu. E por isso carrega o filme com o talento de sempre e imprimindo ao personagem as cores que melhor entende caberem e que se fisicamente soam diferentes dos livros, emocionalmente têm a empatia adequada e evidenciada. O filme, de 2022, tem no começo um crime e junto com as investigações do Comissário e as pistas, que pouco a pouco vão se acumulando, vamos, interessandos, acompanhando os fatos e também tentando montar a solução para o mistério. Há no roteiro e no personagem algumas sutilezas, principalmente no olhar do Comissário sobre o entorno, a Paris mudada quanto aos moradores da miséria atual, nas lembranças da filha em nenhum momento explorada em palavras e até em algumas tiradas interessantes com aquele senso de humor de quem nunca ri, como, por exemplo, quando perguntam se ele tem animais em casa, Maigret responde que “só no meu prato”. Eis o ator enobrecendo o personagem O roteiro não é complexo e com certeza o defeito atribuído ao filme é o seu lento desenvolvimento, seu ritmo que pode se tornar às vezes cansativo. Mas assim por opção do diretor, que decidiu enfatizar as percepções do protagonista em relação às coisas ao seu redor de um modo sensível e incomumente terno, porém com algumas reticências. Esse diretor é o consagrado ator, roteirista, autor de quadrinhos e também cineasta Patrice Leconte (O marido da cabeleireira, Um homem meio esquisito), que optou por um estilo que torna o filme diferente, talvez não sendo de agrado para todos os gostos ou para qualquer momento. Porém é uma visão a ser respeitada e uma viagem que vale a pena, mesclada de sentimentos com história de mistério e suspense policial. Prime Vídeo. 8,4