Imprimir Shortlink

CONSCIÊNCIAS MORTAS (THE OX-BOW INCIDENT)

O título em português, para variar, é dramático e inapropriado, sendo o original perfeito: O incidente em Ox-Bow, nome do lugarejo (Nevada, 1885). Este é praticamente o primeiro filme onde Anthony Quinn apareceu para o cinema, um faroeste de 1943. Mas a estrela principal não é ele, que na época tinha 28 anos, e sim Henry Fonda, que era quase um quarentão e já se fazia conhecido. Também desempenha papel importante no filme o ator Dana Andrews, que um ano mais tarde faria o famoso filme noir Laura. O diretor foi William A. Wellman, que ficou famoso por ter dirigido o primeiro filme que ganhou um Oscar: Asas, de 1927. É um faroeste interessante, porque de fundo moral (discutindo inclusive a função social da lei), mostrando o começo do despertar da consciência no Oeste onde predominava a justiça com as próprias mãos e a razão se decidia a bala, na força e na forca, embora já existissem as figuras do juiz e do xerife. É um filme relativamente curto, em preto e branco, de poucas locações e baixo orçamento, mas de bela fotografia (e enquadramentos, inclusive imprimindo no gênero um inusitado estilo noir), uma trilha marcante (a música tema é automaticamente associada aos westerns) e que traz como atração principal, além dos dois atores primeiramente citados e que acabaram virando ícones do cinema, uma história de conteúdo ético e com um roteiro que prende a atenção e torna o filme instigante e com um ritmo bastante agradável. Pode-se até dizer que a questão central do filme (o destino de algo ou alguém sendo decidido pela maioria) é atemporal. Inclusive foi indicado a Melhor filme no Oscar de 1944 (perdendo para Casablanca). O filme foi baseado no primeiro romance do americano Walter Van Tilburg Clark, porém no livro a importante carta do final não tem seu conteúdo revelado, o que ocorre no filme, com rara felicidade. Um trecho dela para se compreender a beleza e amplitude (spoiler, atenção!): Um homem não pode pegar a justiça em suas mãos e enforcar pessoas sem ferir a todos, porque eles não estarão violando só uma lei, mas todas as leis. A lei é muito mais do que palavras escritas em um livro, ou juízes, advogados e xerifes que você contrata para aplicá-la. É tudo o que aprendemos sobre justiça, sobre certo e errado. É a verdadeira consciência do que é humanidade…Não há civilização se não houver consciência, porque se as pessoas tocam a Deus, como fazê-lo senão através de sua consciência? E o que seria a consciência de alguém, senão um pouco da consciência de todos os homens que já viveram? Não foram poucos os diretores de westerns que revelaram terem sido profundamente influenciados por este filme, sendo um deles Clint Eastwood. 8,7