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KIM NOVAK NUNCA NADOU AQUI

O título deste filme sueco faz referência ao mito do cinema, que pela beleza é associada com a nova professora da escola e que se transforma em musa dos alunos. O tipo de narrativa não é novo. Mas é eficiente. O personagem já adulto contando a história de seus tempos de adolescente no início dos anos 60, época em que ele (Erik) e um amigo novo (Edmund) vão passar as férias de verão em uma casa no campo, junto com o irmão do primeiro (Henry). A narração pelo próprio personagem que vivenciou os fatos cria ao mesmo tempo um distanciamento e uma intimidade muito interessantes. E o filme é muito bem feito, desperta a curiosidade, tem um ótimo andamento, dinamismo, interpretações muito boas e naturais, direção segura e sem deslizes. É uma história dos tempos de pré-juventude, que envolve aventuras, descobertas (entre elas o sexo, claro) e mais para o final – ótimo – um caso policial. Que também instiga e traz um mistério a ser desvendado. Não tem aquelas abordagens de rito de passagem típicas do cinema americano (com trilha comovente, imagens de fim de tarde etc.) e sim a linguagem própria do cinema nórdico, mas mesmo assim – e às vezes por isso mesmo – é um filme muito agradável de se assistir, com ótimos momentos e que pode evocar muitas lembranças, afinal, quem não as tem dessa idade, tão terrível e maravilhosa ao mesmo tempo?!  8,7

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LOU ANDREAS-SALOMÉ

Como é bom conhecer histórias de “espíritos livres”, de “livres pensadores”, pessoas que desde cedo possuem a tendência (e depois a firme resolução) de romper com as regras vigentes. E pensar com sua própria cabeça sendo mulher no século 19 era um grande feito. Esse drama biográfico alemão (co-produção Suiça), dirigido pela alemã Cordula Kablitz-Post, conta justamente a história de Louise Von Salomé, que desde criança já tinha ideias à frente de seu tempo e idade e que mais tarde escandalizou a sociedade, por ser uma intelectual em época na qual a mulher era estimulada a ficar longe dos livros e também pelo seu modo de vida liberal e em razão dos relacionamentos que acabou mantendo, inclusive com alguns ilustríssimos personagens. Ela nasceu em São Petersburgo em 1861 e foi também filósofa, poeta, romancista e psicanalista, tendo sido uma das primeiras mulheres da história a publicar escritos a respeito da sexualidade feminina. Por conta de seu relacionamento com Freud (que o filme explora pouco), acabou sendo uma das poucas mulheres aceitas no Círculo Psicanalítico de Viena. Porém, foi longo o caminho de resolução do conflito liberdade/independência versus intimidade/sexualidade, o que as memórias que resolveu escrever aos 72 anos deixam também claro. O redator e quem a auxiliou nesse projeto foi o filólogo Ernst Pfeiffer, que consta ter sido um dos que também teria ficado encantado com a personalidade ousada e liberta da filósofa. Outros vínculos importantes envolveram Paul Rée, Friedrich Nietzsche e Rainer Maria Rilke, todos sendo retratados no filme como absolutamente hipnotizados, mesmo por alguém que desprezava qualquer relacionamento estável e convencional (desde sempre a ideia de Lou era de jamais casar ou ter filhos). Esse ponto talvez seja um dos falhos do filme, assim como dar ênfase em demasia ao lado amoroso, em detrimento dos aspectos das contribuições científicas da personagem. Entretanto, parece que a vida dela foi efetivamente uma simbiose, na qual os relacionamentos tiverem destaque realmente expressivo, pois em meio a uma sociedade conservadora…De todo modo, as virtudes do filme são muito maiores que os defeitos, mostrando um contexto importante da história, uma personagem de biografia pouco explorada (e que muito merece ser!) e as diversas camadas culturais europeias por onde transitou e onde deixou sua influência pessoal e profissional, junto com elas um painel de importantes transformações sociais, inserido o confronto entre filosofia e religião, o totalitarismo emergente (queima de livros repudiados pelo nazismo) etc. E o filme apresenta ainda uma forma muito original de mostrar as diversas localidades europeias, inserindo os personagens (em movimento) em fotografias e belíssimos cartões-postais de época (São Petersburgo, Roma, Berlim, Zurich…). 8,5

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HAPPY END

Este é um filme francês (co-produção Alemanha-Áustria) que participou de vários festivais, incluindo Cannes 2017, com Isabelle Huppert (que é a Meryl francesa – mais ou menos) e Jean-Louis Trintignant, entre outros e que pode ser definido como um drama hermético e incluído na categoria “filmes de arte”, ou seja, aquela que agrada mais a públicos especiais. Na verdade, usando uma expressão popular, em muitos momentos o filme é absolutamente pedante, cansativo. Primeiro, porque demoramos a nos adaptar com os vários personagens e definir quem é quem, além de também termos que nos acostumar com a morbidez que acompanha boa parte da trama (visão pessoal do cineasta). E segundo e principalmente, porque há cenas com uma duração excessiva, como, por exemplo, a cena do karaokê…essa é uma característica do cinema francês que o torna aborrecido às vezes, embora o diretor seja Michael Haneke e saiba o que faz (A fita branca, A professora de piano, Amor) – apesar de ter realizado obras quase indigeríveis, como Caché. Entretanto, à medida em que a história vai transcorrendo e a familiaridade com os personagens aumenta, o filme cresce. Também porque alguns segredos vão emergindo e com impacto somos levados a conhecer fatos do subterrâneo de alguns personagens e a maldade maior acaba vindo de onde nunca esperaríamos. O filme então acaba se justificando e também a sua densidade. De todo modo, é daquelas obras que permitem diversas interpretações, justamente pela ironia que orbita em torno do drama e a inteligência por trás de sua realização. A  última cena, inclusive, seria até bastante cômica, se não fosse absolutamente trágica.  7,8

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ROMAN J. ISRAEL, ESQUIRE

Um papel diferente e difícil na carreira do grande Denzel Washington, que por ele foi indicado ao recente Globo de Ouro. O filme trata de questões envolvendo a advocacia na grande metrópole, mostra como funciona o voluntariado, mas seu ponto central é o grande confronto entre ética e realidade. O idealismo tem condições de sobrevivência no mundo selvagem e capitalista em que vivemos? O Dr. Israel por certo teve condições de exercitar sua inocência e seus propósitos puros e humanitários enquanto foi apenas uma sombra em um famoso escritório de advocacia. Mas conseguirá manter essa postura no papel de protagonista? Que poderosos obstáculos enfrentará! Várias possibilidades de escolha aparecem, demonstrando que o homem é a soma de suas opções. Mas se tomado o caminho errado insuspeitáveis perigos poderão surgir (e aqui se trata de um direcionamento que o filme toma a partir de certo ponto de sua parte final e que imprime outra dimensão ao personagem e à própria história, que passam a ficar mais vinculados ao crime e ao suspense que o permeia). O personagem é complexo e nos deixa desconcertados em muitos momentos, parecendo às vezes um visionário, outras vezes alguém com limitações mentais, outras ainda um total alienado, “fora da casinha” como se diz popularmente. O enredo esclarecerá melhor essas facetas, mas mesmo assim a mensagem tangencia o respeito às diferenças, principalmente quando alguém não convencional acaba deixando marcantes alguns de seus exemplos. Também atua no filme Colin Farrell.  8,2

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MOLLY´S GAME (A GRANDE JOGADA)

Este é um filme com muito ritmo. Diálogos rápidos, afiados, precisos, envolvendo jogos de pôquer, altas apostas, elites, multimilionários, FBI, atividades ilícitas, investigações, violência, dramas…e a atuação espetacular de Jessica Chastain, indicada ao Globo de Ouro por este papel. Idris Elba também é um grande ator e tem uma performance segura, mas ela é uma força da natureza. O filme é baseado nas memórias de Molly Bloom, que foi uma grande esquiadora e que parou de competir em razão de um acidente e que depois de virar garçonete teve uma ideia genial para subir na vida, seguindo um caminho insólito até ganhar o apelido de “a princesa do pôquer”. Kevin Costner, quem diria, faz o pai da protagonista. E na parte final do filme vemos um dilema ético a ser enfrentado. E que, afinal, acaba sendo o ponto vital do filme e que definiu tanto o destino da personagem, quanto o de diversas pessoas que a ela confiavam seus segredos, na certeza da incolumidade e do anonimato. A escolha da protagonista parece meio romanceada, feita em nome da dignidade, da honra, enfim, dos valores que são caros a todos mas na prática não parece tão comumente defendidos…mas, ao que consta, na realidade os fatos ocorreram exatamente como o filme mostra e em sua parte final referencia a vida real. Ótima diversão.  8,7

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BAFTA (Oscar britânico) – RESULTADOS (18/2/18)

Vencedores (em negrito):

Melhor Filme

  • Três Anúncios Para um Crime – vencedor
  • Me Chame Pelo Seu Nome
  • O Destino de uma Nação
  • Dunkirk
  • A Forma da Água

Melhor Filme Britânico

  • O Destino de uma Nação
  • A Morte de Stalin
  • Reino de Deus
  • Três Anúncios Para um Crime — vencedor
  • Lady Macbeth
  • Paddington 2

Melhor Diretor

  • Denis Villeneuve – Blade Runner 2049
  • Luca Guadagnino – Me Chame Pelo Seu Nome
  • Guillermo del Toro – A Forma da Água – vencedor
  • Christopher Nolan – Dunkirk
  • Martin McDonagh – Três Anúncios Para um Crime

Melhor Atriz

  • Annette Bening – Film Stars Don’t Die in Liverpool
  • Margot Robbie – Eu, Tonya
  • Frances McDormand – Três Anúncios Para um Crime – vencedora
  • Sally Hawkins – A Forma da Água
  • Saoirse Ronan – Lady Bird

Melhor Ator

  • Daniel Day-Lewis – Trama Fantasma
  • Gary oldman – O Destino de Uma Nação – vencedor
  • Daniel Kaluuya – Corra!
  • Jamie Bell – Film Stars Don’t Die in Liverpool
  • Timothée Chalamet — Me Chame Pelo Seu Nome

Melhor Atriz Coadjuvante

  • Allison Janney – Eu, Tonya – vencedora
  • Kristin Scott Thomas – O Destino de uma Nação
  • Laurie Metcalf – Lady Bird
  • Lesley Manville – Trama Fantasma
  • Octavia Spencer – A Forma da Água

Melhor Ator Coadjuvante

  • Christopher Plummer – Todo o Dinheiro do Mundo
  • Hugh Grant – Paddington 2
  • Sam Rockwell – Três Anúncios Para um Crime – vencedor
  • Willem Dafoe – Projeto Flórida
  • Woody Harrelson – Três Anúncios Para um Crime

Melhor Filme em Língua Estrangeira

  • Elle
  • First They Killed My Father [Primeiro Eles Mataram Meu Pai]
  • Sem Amor
  • A Criada – vencedor
  • O Apartamento

Melhor Documentário

  • Eu Não Sou Seu Negro – vencedor
  • Cidade de Fantasmas
  • Ícaro
  • Jane
  • Uma Verdade Mais Inconveniente

Melhor Fotografia

  • O Destino de uma Nação – Bruno Delbonnel
  • Dunkirk – Hoyte van Hoytema
  • Blade Runner 2049 – Roger Deakins – vencedor
  • A Forma da Água – Dan Laustsen
  • Três Anúncios Para um Crime – Ben Davis

Melhor Maquiagem e Cabelo

  • Blade Runner 2049 – Donald Mowat, Kerry Warn
  • O Destino de uma Nação – David Malinowski, Ivana Primorac, Lucy Sibbick, Kazuhiro Tsuji – vencedor
  • Eu, Tonya Deborah La Mia Denaver, Adruitha Lee
  • Victoria & Abdul – Daniel Phillips
  • Extraordinário – Naomi Bakstad, Robert A. Pandini, Arjen Tuiten

Melhor Edição

  • Baby Driver – Jonathan Amos, Paul Machliss – vencedores
  • Blade Runner 2049 – Joe Walker
  • Dunkirk – Lee Smith
  • A Forma da Água – Sidney Wolinsky
  • Três Anúncios Para um Crime – Jon Gregory

Melhor Design de Produção

  • A Bela e a Fera – Sarah Greenwood, Katie Spencer
  • A Forma da Água – Paul Austerberry, Jeff Melvin, Shane Vieau – vencedores
  • Blade Runner 2049 – Dennis Gassner, Alessandra Querzola
  • O Destino de uma Nação – Sarah Greenwood, Katie Spencer
  • Dunkirk – Nathan Crowley, Gary Fettis

Melhores Efeitos Visuais

  • Dunkirk
  • A Forma da Água
  • Star Wars: Os Últimos Jedi
  • Blade Runner 2049 – vencedor
  • Planeta dos Macacos: A Guerra

Melhor Trilha Sonora Original

  • Blade Runner 2049 – Benjamin Wallfisch, Hans Zimmer
  • O Destino de uma Nação – Dario Marianelli
  • A Forma da Água – Alexandre Desplat – vencedor
  • Dunkirk – Hans Zimmer
  • Trama Fantasma – Jonny Greenwood

Melhor Animação

  • Com Amor, Van Gogh – Dorota Kobiela, Hugh Welchman, Ivan Mactaggart
  • Coco – Lee Unkrich, Darla K. Anderson – vencedor
  • Minha Vida de Abobrinha – Claude Barras, Max Karli

Melhor Som

  • Dunkirk – Richard King, Gregg Landaker, Gary A. Rizzo, Mark Weingarten
  • Baby Driver – Tim Cavagin, Mary H. Ellis, Julian Slater
  • Blade Runner 2049 – Ron Bartlett, Doug Hemphill, Mark Mangini, Mac Ruth, Theo Green
  • A Forma da Água – Christian Cooke, Glen Gauthier, Nathan Robitaille, Brad Zoern
  • Star Wars: Os Últimos Jedi – Ren Klyce, David Parker, Michael Semanick, Stuart Wilson, Matthew Wood

 

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IN SEARCH OF FELLINI (EM BUSCA DE FELLINI)

No início o filme já dá a dica, com um pensamento de Fellini: “Realismo é uma palavra ruim. Não vejo nenhum limite entre o imaginário e o real”. Assim é grande parte dos filmes fellinianos, misturando sonhos com realidade, transformando o cinema em um grande exercício do sentir mais do que do pensar. Este filme mostra a protagonista se encantando profunda e definitivamente com a obra do diretor, mas também apresenta o lado de pessoas que veem os filmes simplesmente como uma colagem de imagens, algumas fazendo sentido, outras não. De todo modo, aqui se trata de uma viagem física e emocional, geográfica e íntima (busca interior), criando um paralelo entre a realidade e a fantasia dos filmes, banhando a realidade de beleza e imprevisibilidade, com a intensidade da paixão e da reverência à obra do grande diretor. O encanto do filme é também o inesperado. Mas reside em muito na forma extremamente delicada de contar a história, que a fotografia enfatiza a todo instante, com o clima permanente de sonho. A atriz Ksenia Solo, excelente e extremamente fotogênica/bonita interpreta com intensa emoção e paixão o papel e nos transporta para um universo de busca e no qual é preciso acreditar na mágica, por mais que as dores do mundo real estejam permanentemente nos acompanhando. O lindo desfecho coroa uma bela e lírica obra.  8,8

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PHANTOM THREAD (TRAMA FANTASMA)

O título original do filme tem em parte relação com fio, tessitura e em outra parte com alguns aspectos sobrenaturais relacionados com o protagonista (coisas que o perturbam, fatos filosóficos envolvendo a morte e a pessoa da mãe). A parte do “fio” e da “tessitura” tem duplo sentido, metafórico e literal, porque o personagem é um estilista/designer de moda, circunstância que inclusive se tornou um desafio (de oficina) para o ator principal. Essa introdução é só para comentar mais uma vez a infelicidade do nome em português, a menos que o amadorismo de quem executa a tarefa tenha cedido vez à genialidade de dar à palavra “trama” o mesmo significado do inglês “thread”, no que de modo se acredita. À parte esse fato, este é um filme indicado a vários Oscar: Melhor filme, diretor (Paul Thomas Anderson), ator (Daniel Day-Lewis), atriz coadjuvante (Lesley Manville, a irmã do estilista),trilha sonora e figurino. Surpreendentemente ficou fora da indicação de melhor roteiro, fato difícil de explicar. Mas é verdade que não é comum um filme com esse estilo e natureza ser indicado ao Oscar. Porque se trata de algo denso, psicológico, difícil de entender em toda a sua profundidade, ou melhor, permite algumas “viagens” de interpretação, principalmente em sua parte final. De todo modo, é uma obra extremamente bem feita e original, com uma trilha sonora forte e dramática (que em alguns momentos até parece exagerada para a cena) e que explora os personagens principais de forma intensa, inclusive o diretor não deixando passar a ocasião de explorar o recurso do close no protagonista, fato motivado pela excelência interpretativa de Daniel Day-Lewis, que constrói aqui um personagem fascinante e complexo e que infelizmente, com esse filme, anunciou sua aposentadoria (como ator). Mas se a força da atuação do ator é aproveitada ao máximo e com a competência de sempre pelo diretor Paul Thomas Anderson (Sangue negro, Magnólia, O mestre…), os demais protagonistas não ficam muito atrás, sendo também marcante a performance da atriz Lesley Manville indicada ao Oscar de coadjuvante da irmã do personagem, assim como a de Vicky Krieps, que interpreta um riquíssimo personagem feminino. Quanto ao figurino, é belíssimo, não apenas retratando os anos 50 da Londres pós-guerra, mas também os trajes desenhados e confeccionados pelo renomado Woodcock, à exaustão e perfeição (e com o fator neurótico associado…), inclusive para a realeza da época. O filme é interessante, instigante, mantém em suspense o espectador todo o tempo, tem momentos memoráveis, desperta sentimentos variados e embora não seja tão fácil de ser totalmente compreendido, é daqueles que fazem pensar e deixam impressões e sensações que se perpetuam para além do tempo de sua exibição.  9,0

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WALKING OUTUBRO (EM RETIRADA)

Este é um drama americano, com ação e aventura e rodado em várias localidades, inclusive em Montana, um dos Estados menos populosos dos EUA e que faz fronteira com o Canadá. O ambiente é deserto, com planícies e planaltos frios e extensos, montanhas de neve, árvores coníferas, córregos gelados. A população inclui aves, alces e ursos. É uma paisagem adequada para pai e filho tentarem uma comunicação, uma conexão que tem sido difícil, desejando o pai transmitir ao filho os mesmos ensinamentos de caça que seu pai lhe passou (Bill Pulmann) e propiciar a ele todos os prazeres da primeira caçada. Mas esse propósito encontrará obstáculos, severos e inesperados, apresentando desafios que parecerão bastante difíceis de serem transpostos. O filme tem um ritmo lento, deve ser saboreado aos poucos, porque justamente tem que desenvolver lentamente toda uma relação que pretende resgatar algo e daí se extrai muitas coisas. As imagens são muito bonitas, a trilha sonora é ótima, assim como a direção e as interpretações são convincentes e realistas. E há segredos a serem revelados, superação a ser testada (mostrando forças que se escondem no fundo dos seres humanos) e no mínimo duas ou três cenas marcantes e emocionantes, como a do cervo se aproximando do homem encostado à árvore, belíssima em significado.  8,0

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ONLY THE BRAVE (HOMENS DE CORAGEM)

Estrelado por Josh Brolin, Jennifer Connelly, Jeff Bridges e Miles Teller, este é um filme que mostra a vida dos Granite Mountain (Hot Shots), bombeiros municipais de elite, em combate aos incêndios florestais, tidos como heróis por todas as comunidades onde atuavam. O título já diz tudo: “somente para os valentes”…O filme é baseado em fatos reais e mesmo não tendo grande novidade ou criatividade no roteiro, mostra a atuação e a valentia dos bombeiros, assim como retrata eventos reais ligados a grandes e perigosos incêndios (principalmente o famoso de Yarnel Hill – no final do filme, vemos os personagens verdadeiros) e também aborda um dos temais mais recorrentes e reais envolvendo profissões dedicadas a servir à população: as dificuldades e o desgaste dos relacionamentos pessoais/matrimoniais. Também é interessante vermos como funciona o procedimento de prevenção ao descontrole do incêndio florestal (impedindo que o fogo se alastre além de certo limite territorial), o chamado “aceiro”. O diretor é Joseph Kosinski (Oblivion, Tron…) e o filme tem belas e fortes imagens dos incêndios, fatos que também o valorizam.  7,8

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SUBURBICON (BEM-VINDOS AO PARAÍSO)

Este é um filme original, mas estranho e com interpretações forçadas/exageradas em algumas cenas. Mas é tudo proposital e feito de forma calculada, com o objetivo de realçar fatos e chamar a atenção para a real mensagem que pretende passar. Dirigido pelo competente George Clooney em parceria com os irmãos Coen – o que já significa muita coisa! -, tem no elenco Matt Damon, Julianne Moore (e o excelente menino Noah Jupe) e a trilha sonora de Alexandre Desplat, fatos que confirmam a sua qualidade. Na verdade, é uma obra satírica, cínica, debochada, que mostra a classe média branca americana dos anos 50, vivendo o american way of life:  um bairro exemplar, com pessoas bonitas, alegres, sorridentes, cordiais, as casas perfiladas, todas ajardinadas e ensolaradas, enfim, um mundo de perfeição em todos os sentidos. Mas a harmonia é mostrada para depois ser desconstituída e de forma impiedosa! A época, por sinal, é ideal para tais propósitos, ainda sendo os americanos especialistas em reconstituição de épocas, notadamente a década de 50. O filme justamente põe a pique a hipocrisia dessa classe média, a partir de fatos envolvendo a nova vizinhança e atos criminosos inesperados, dos quais decorrem cenas que chocam e que incomodam, com um clima de drama e suspense e que vai conduzir o espectador por caminhos muito bem elaborados de uma sátira ferina, inteligente e que ostenta um humor negro de sorriso amarelo.  8,8

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GOODBYE CHRISTOPHER ROBIN

Quem diria que o mundo mágico do Ursinho Pooh, um dos encantos do mundo infantil de todos os tempos (criação do escritor britânico Alan Alexander Milne), teve tantos dramas por trás de sua criação! A começar pelo próprio escritor, com traumas da Primeira Guerra Mundial, onde lutou, passando pelas relações com o filho (em cujos brinquedos se inspirou) e também pelos percalços da fama, ainda mais quando algo parece roubado em algum instante do caminho…Um filme sem grandes desafios, contando uma história simples mas significativa e verdadeira (no final, vemos os reais personagens) e com o mérito da produção, direção, fotografia (exuberante!) e um elenco coeso, do qual fazem parte Kelly Macdonald (a Nani), Margot Robbie (atriz de I, Tonia, concorrente ao Oscar 2018), Domhnall Gleeson e o adorável Will Tilston, que embora ainda uma criança, acentua a doçura do filme com seu jeito cativante e seu sorriso de covinhas. Dirigido por Simon Curtis (Sete dias com Marilyn), um filme despretensioso, mas de real beleza e que enternece com legitimidade.  8,5

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EXTRAORDINÁRIO

Este é um filme (baseado em best seller) que tem muitos clichês (e que insistem às vezes em causar emoções). Inclusive o da família ideal, ou seja, como toda família deveria ser, se comportar, interagir. Um ideal que parece distante à grande maioria certamente, mas pensando bem não faz mal que sirva como parâmetro de algo a ser atingido. Porque é aquilo que todos desejaríamos para nossa família. Todos gostaríamos de ser assim, tão perfeitos e positivos. Porém, à parte tais considerações, as qualidades do filme prevalecem com sobras sobre os elementos de sempre e que são minuciosa e estrategicamente compostos para comover o espectador (combinação de história, imagens e música etc.). Porque o diretor Stephen Chbosky (“A bela e a fera”, “As vantagens de ser invisível”…) conseguiu retratar com muita sensibilidade não só os problemas e o sofrimento da infância e pré-adolescência (buylling incluído com intensidade), com foco no personagem principal, mas também mostrar que também têm problemas os demais membros da família, assim como os amigos, dando ênfase especial a esse aspecto e com isso acrescentando ao filme outras importantes dimensões. Assim, o que poderia ser apenas um drama sentimentalóide, propicia a quem se deixar levar pela viagem além de muitas emoções, também matéria para reflexões e aprendizado, enfatizando o amor, a solidariedade, o otimismo e discutindo inclusive sobre a necessidade de amadurecimento pessoal e social. Além da presença meteórica de Sônia Braga, o elenco é integrado pelo correto Owen Wilson (que trabalha bem todos os seus papéis, mas parece sempre o mesmo), pela irmã do personagem, a atriz Izabela Vidovic, mas os destaques são o ator Jacob Tremblay, que havia protagonizado “O quarto de Jack” e aqui interpreta o maravilhoso Auggie e Julia Roberts, que faz a mãe do garoto e com ele é responsável por grandes e emocionantes passagens. O filme tem uma belíssima fotografia e muitas cenas arrebatadoras. Vale a pena.  8,8

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UMA MULHER FANTÁSTICA

Este filme chileno, de Sebastián Lelio, concorre ao Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro. Como obra cinematográfica, não há como deixar de reconhecer o seu valor em diversos aspectos, inclusive quanto à atuação de Daniela Vega, embora não seja um filme que deixe a sensação de perfeição. Mas é algo que não se destina, pelo tema, a todo tipo de público e a questão acaba sendo a de se gostar dele ou não. Porque a temática incomoda. Tanto pela realidade que denuncia (e em algumas cenas de forma realmente brutal e chocante), quanto talvez por fazer com que o espectador questione seus próprios valores e sentimentos. Vemos um ser humano tendo que se submeter a todo tipo de preconceito e agressões (mesmo veladas), sendo constantemente massacrado em sua dignidade, tendo de se reerguer a cada dia, apenas por ser diferente. Uma obra densa, mas nada fácil de ser plenamente degustada. No meu caso, estranhei entre os cinco indicados ao Oscar a ausência de Em pedaços, filme alemão que ganhou na mesma categoria tanto o Globo de Ouro, como o Critics Choice Awards. 7,8

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JOÃO, O MAESTRO

Biografia de João Carlos Martins, músico e maestro brasileiro, com mais de 1500 concertos pelo mundo e que já trouxe milhares de crianças para o universo da música clássica (com seu programa de inclusão social), o filme tem altos e baixos e a sensação que fica, após a exibição, é de que faltaram algumas coisas. Em densidade e em emoção. Meio indefinidas até. Possivelmente carência de edição, de direção…Talvez se algumas cenas fossem mais longas, para fazer a emoção ir se formando…provocando empatia com os fatos e com os personagens. Entretanto, trata-se de um filme bem intencionado e que tem o mérito de contar uma história bonita e que envolve um personagem muito querido e importante para a arte do Brasil, aclamado internacionalmente e profundo conhecedor, como pianista, da obra de Bach, a qual executou magistralmente em diversos locais do mundo, inclusive no Carnegie Hall, sendo muitas vezes ovacionado em pé pelo público. Ficamos conhecendo além da obra do pianista (com ótimas execuções com orquestra, todas originais), o lado escuro de sua biografia, que é o que diz respeito à sua limitação física (alguns dedos das mãos e da própria mão). E um grande choque é se saber de que maneira o maestro João Carlos Martins teve diminuída sua capacidade física, a ponto de ter de desistir de ser pianista e seguir os caminhos da regência, embora muitas vezes depois tenha voltado a se apresentar como pianista, confirmando a coragem e a garra que sempre o caracterizaram. O filme dimensiona a obra do artista e o homenageia com muita justiça, inclusive na última e tocante cena, ao apresentar uma execução ao vivo em que, acompanhado por maravilhosa orquestra, o maestro executa corajosamente e com toda a alma e o amor pela arte um número musical que a princípio exigiria a plenitude física. Alexandre Nero faz uma bela performance, interpretando com intensidade o personagem, visceral tanto nas execuções ao piano, quanto nas conduções como maestro. Mas mesmo assim, algo realmente fica faltando e a sensação que fica é de algum vazio.  7,5

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THE POST

O filme trata da guerra do Vietnã, de política, de governos e interesses e segredos, de imprensa e liberdade, de sobrevivência, de ética, honra, família etc., todos temas comuns a muitas produções americanas de diversas épocas. Só que aqui a história é tão bem costurada/amarrada e envolvente, a produção impecável em tantos aspectos (edição, trilha, fotografia e ambientação perfeitas evocando os anos 70), o ritmo e a atuação do elenco tão perfeitos, que vamos sendo contagiados pela qualidade e nos emocionando cada vez mais, sentindo despertar em nós aqueles belos – e às vezes esquecidos – ideais de liberdade e justiça. Tom Hanks, que hoje é um ótimo ator, é um dos destaques do harmonioso elenco…entretanto, não há como deixar de registrar, pela milésima vez, a maravilhosa e perfeita atuação de Meryl Streep, que, aliás, já deveria ser hous concours para a Academia, porque se justiça fosse feita ganharia o Oscar quase todo ano! Para completar a alta qualidade do filme, se Spielberg estava devendo nos últimos anos um trabalho de excelência, mostrou novamente ser um diretor da maior competência e realizou algo exemplar e muito bem acabado e que injustamente concorre a apenas dois Oscar: de Melhor Filme e de Melhor Atriz (Meryl Streep). Penso tratar-se de um preconceito – ou cansaço??? – de Hollywood contra Tom Hanks, contra o próprio Spielberg e até contra filmes desse gênero, que, afinal, foram feitos às dezenas ao longo do tempo. Mas, entre todos, este realmente se sobressai e por isso é injusto ter sido desvalorizado pelas indicações. Inclusive, porque, na minha opinião, é superior a todos os demais indicados, com algumas jardas de vantagem.  9.5

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O DESTINO DE UMA NAÇÃO (DARKEST HOUR)

Com Kristin Scott Thomas e Lily James, entre outros, e dirigido por Joe Wright (Orgulho e preconceito, Desejo e reparação, Anna Karenina, Hanna…), este filme enfoca a situação da Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, quando do domínio tirânico e invasão feroz e progressiva da Alemanha, colocando em risco toda a Europa e na iminência de atacar a famoso império britânico – após a subjugação da França (importante no filme o evento de Dunkirk, que é o tema do filme do mesmo nome). Dentro de tal contexto, a figura do Primeiro-Ministro Winston Churchill assume um papel fundamental de prestígio e comando, inclusive nas articulações e decisões de guerra, situações que encontrariam o seu ápice no momento da vital decisão, sobre tentar-se uma negociação de paz com Hitler (com intermediação de Mussolini) ou aguardar-se o poderoso e imprevisível (talvez nem tanto) ataque. O filme é bem produzido, tem ótimas cenas – pelo menos uma especialmente emocionante (que é a do Metrô) – talvez exagere um pouco no “heroísmo” de Churchill, mas o seu mérito maior, além de retratar acontecimentos marcantes da história da humanidade, é mostrar esse complexo personagem tanto em suas facetas mais favoráveis, como nas fraquezas, o que o humaniza e o aproxima das massas que tanto o admiraram e reverenciaram. E pelo que o filme mostra, com plena razão. E quem tem a missão de se transformar no próprio filme, com a qualidade de seu trabalho – da qual se desembaraça com total desprendimento -, é o ator Gary Oldman, talvez não devidamente valorizado por suas atuações em filmes anteriores, mas que aqui certamente apresenta um memorável desempenho, pelo qual deverá receber a recompensa merecida no Oscar de 4 de março próximo, o que simplesmente confirmará os prêmios que já vem acumulando desde o ano passado, com destaque para o Globo de Ouro, o Critic Choice Awards e o SAG Awards.  8,8

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SAG AWARDS 2018 – VENCEDORES – TV

Melhor Elenco de Série

This is Us

 

Melhor Ator em Série de Drama

Sterling K. Brown – This is Us

 

Melhor Atriz em Série de Drama

Claire Foy – The Crown

 

Melhor Elenco de Série de Comédia

Veep

 

Melhor Ator em Série de Comédia

William H. Macy

 

Melhor Atriz em Série de Comédia

Julia Louis-Dreyfs – Veep

 

Melhor Ator em Série Limitada ou Filme para a TV

Alexander Skarsgard – Big Little Lies

 

Melhor Atriz em Série Limitada ou Filme para a TV

Nicole Kidman – Big Little Lies

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SAG AWARDS 2018 (21/1/18) – VENCEDORES – CINEMA

Melhor Elenco de Filme

Três Anúncios Para um Crime

 

Melhor Ator

Gary Oldman – O Destino de Uma Nação

 

Melhor Atriz

Frances McDormand – Três Anúncios Para um Crime

 

Melhor Ator Coadjuvante

Sam Rockwell

 

Melhor Atriz Coadjuvante

Allison B. Janney – I, Tonya

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PONTO DE INFIDELIDADE (THE DETAILS)

O título em português é lamentável, para variar. O original é que tem tudo a ver com o filme e esses “detalhes” são várias coisas que acontecem nesta comédia dramática mas meio maluca e com alguns diálogos mais pesados, que mistura non sense,  humor negro, drama, anarquia, narração em off, enfim…são fatos que ocorrem em uma sequência rápida e imprevisível, com as ideias se sucedendo e não dando muito tempo para se imaginar o que virá. O que é uma virtude, embora o desenvolvimento tenha altos e baixos. Mas é um filme interessante, inteligente e criativo, sendo estrelado por Tobey Maguire (que não vai mal, mas para mim não é o que acha a grande maioria), Elizabeth Banks (bonita, mas apenas regular como atriz), Ray Liotta (sempre o mesmo, mas carismático), Dennis Haysbert e Laura Linney (sempre maravilhosa, felizmente!), entre outros. Foi produzido em 2014, diretamente para a TV.  7,9