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GLOBO DE OURO 2018 (7/1/18) – RESULTADOS – CINEMA

MELHOR FILME – DRAMA

Três Anúncios para um Crime

 

MELHOR FILME – COMÉDIA/MUSICAL

Lady Bird – A Hora de Voar

 

MELHOR DIRETOR

Guillermo del Toro (A Forma da Água)

MELHOR ATOR – DRAMA

Gary Oldman (O destino de uma nação)

 

MELHOR ATRIZ – DRAMA

Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)

MELHOR ATOR – COMÉDIA/MUSICAL

James Franco (Artista do Desastre)

MELHOR ATRIZ – COMÉDIA/MUSICAL

Saoirse Ronan (Lady Bird)

 

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)

 

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Allison Janney (Eu, Tonya)

 

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

Viva – A Vida é uma Festa

 

MELHOR FILME ESTRANGEIRO

Em Pedaços (Alemanha)

 

MELHOR ROTEIRO

Martin Mc Donagh (Três Anúncios para um Crime)

 

MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL

A forma da água

 

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

This is me, Justin Paul e Benj Pasek (O Rei do Show)

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UNDER THE TREE

Um drama realista contemporâneo, candidato islandês dentre os representantes ao Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro. O pano de fundo – mas não sem menos importância – é a relação matrimonial, o desgaste, o adultério, as consequências de uma separação…com isso, a exposição pública da intimidade, a reflexão sobre os limites de convivência, sobre o perdão e até sobre a chance de corrigir os erros. Mas o foco principal do filme, com humor negro pode ser definido como a “política da boa vizinhança”. Mas sob o ponto de vista do incorreto politicamente.  O cartaz do filme é excelente! O que uma guerra velada entre vizinhos pode provocar, ainda mais se envolver pessoas com amargor acumulado…as suspeitas corroendo a alma e alimentando o rancor… as pequenas coisas se transformando em grandes, os fatos aparentemente sem grande importância se acumulando, crescendo e tomando proporções imprevisíveis…a cena do animal embalsamado é medonha! E no espectador surge a pergunta, depois de tudo e da derradeira cena, que é tragi-cômica (precedida de outra quase inacreditável): o desenlace terá sido exagerado, caricato ou realista? Quais os limites para o espírito humano envenenado? Excelente trabalho de direção e elenco, em um cinema sem concessões (cru, nos diálogos e nas cenas), tendo o filme sido um dos dois mais vistos na Islância no ano de 2017.  8,0

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A CONFISSÃO

Exibido pela Netflix, também tem o título no plural, mas o original é “Le confessioni”, portanto o singular é o mais adequado. Uma reunião de economistas de vários países em um luxuoso e bem protegido local vai desencadear um interessante drama com forte fundo político, contendo questões muito atuais sobre a economia, o capitalismo, o poderio do sistema bancário (até mesmo comparado com a Máfia), o domínio do mundo moderno, tudo cercado de muito mistério quanto aos objetivos do encontro, sobre alguns personagens, mas principalmente a respeito do monge (presença aparentemente inusitada no encontro), interpretado pelo ótimo Tony Servillo (A grande beleza). Mas o mistério maior, em torno do qual orbita toda a trama, é justamente o de uma confissão, que acaba se vinculando à morte de um dos personagens e seu conteúdo acaba sendo uma das surpresas da parte final do filme. No caso, uma surpresa positiva. Mas há também uma surpresa para mim negativa, que é a da doutrina ideológica que o filme abraça em seu desenlace e que parece contrariar o equilíbrio e a abertura existente ao longo de toda a história. Com exceção desse desenlace que toma partido, todo o filme é guiado pela qualidade da produção, do roteiro, da fotografia, da trilha sonora, da direção e dos diálogos, com um clima permanente de mistério e um elenco afinado, integrado inclusive por Connie Nielsen e Daniel Auteuil.   8,7

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A SOMBRA E A ESCURIDÃO

Tsavo é uma localidade do Quênia, batizada com o nome do rio por sobre o qual no final do século 19 a Inglaterra decidiu construir uma ponte ferroviária estratégica, tendo para tanto contratado um engenheiro especializado, naturalmente com prazo para cumprir a tarefa. O projeto, claro, envolveu uma logística complexa, de materiais e pessoas (centenas de trabalhadores), porém certos fatos inesperados e lendários ocorreram para dificultar ou até mesmo impedir a continuidade do trabalho. Esses fatos estão relacionados com o título do filme e com os animais que foram assim apelidados pelos trabalhadores, que – após dezenas de mortes – acreditavam que não se tratava apenas de algo comum, mas sobrenatural, demônios invencíveis pela maneira como atacavam e escapavam das diversas armadilhas feitas para capturá-los. Este é um filme de 1996 sobre tais fatos, tendo obviamente acrescentado alguns elementos a mais, notadamente para dar mais emoção ao filme, como os que envolvem a família do personagem interpretado por Val Kilmer, por exemplo, ou a juba  – que na verdade os animais não possuíam (conforme se pode ver pelas fotos do museu de Chicago onde estão expostos atualmente). Trata-se de um filme de aventura e suspense, um thriller pode-se dizer, porque o suspense aqui é dominante e elevado a níveis de grande qualidade. As cenas mais fortes e vitais foram excepcionalmente bem dirigidas e editadas, com trilha sonora mais do que adequada, para trazer ao espectador um clima de alta tensão, o qual, aliás, permeia grande parte da história, também valorizada pela presença de Michael Douglas. É um dos melhores filmes já feitos, dentro do gênero.  9,0

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RODA GIGANTE

Este é o mais novo filme de Woody Allen. E, como dizem (e é a verdade), um filme de Woody já é melhor do que a média dos demais. Aqui, a época são os anos 50 e o local Coney Island. Vemos aquela introdução só com os letreiros com as antigas melodias de blue, jazz etc., que tanto são apreciadas pelo diretor, seguindo-se a primeira imagem (o impacto, após a apresentação), que já confirma a deslumbrante fotografia, comum a todos os seus filmes. Trilha sonora impecável e elenco escolhido a dedo, no caso um James Belushi diferente, mas muito denso, Kate Winslet, no papel de uma “senhora” e não de uma jovem (maravilhosa, como sempre), Justin Timberlake, um ótimo ator e Juno Temple, também revelação. Mas a história é um melodrama que poderia ser perfeitamente servido em um outro meio, como o teatro, por exemplo. O veículo escolhido foi o Cinema e, de fato, há algumas cenas que não funcionariam na seara teatral. Entretanto, não há muita criatividade no enredo, apenas sendo os personagens tratados com muita habilidade pelo diretor, assim como os diálogos. Porém a falta de algo novo acaba cansando um pouco. Mas o filme é polêmico, conquistando referências inclusive entusiasmadas de alguns críticos. Na minha opinião, está entre os dramas medianos do diretor.  7,8

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ME CHAME PELO SEU NOME

Adorar este filme, na minha opinião, talvez seja mais questão de identificação do que qualquer outra coisa. Não encontro aqui motivos para tanta aclamação. Com certeza é algo feito com extrema delicadeza, muito cuidado na produção, fotografia e locações belíssimas, provavelmente seja o filme mais sutil ou sério realizado sobre o tema. Ou seja, uma obra muito bem acabada. Entretanto, no fundo, no fundo, examinado bem o roteiro, não há nada demais na história, sendo igual a tantas outras. Apenas o tratamento merece uma referência, além das interpretações e há um diálogo entre pai e filho que faz valer o filme. Nesta época de ideologias de igualdades talvez o filme tenha soado para alguns como um libelo importante. Tanto, que recebeu inúmeros prêmios e indicações. Deve haver mais sentimentos represados no mundo do que supõe minha vã filosofia. Ou me falta de momento a devida identificação ou sensibilidade para atingir o que confirmam os inúmeros merecimentos que o filme tem ganho na mídia e em festivais diversos. Foi indicado para o Globo de Ouro próximo (daqui a 4 dias precisamente) como Melhor filme/drama, Melhor ator e Melhor ator coadjuvante 7,6

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O REI DO SHOW

Desde a primeira cena o filme já se anuncia: um musical, visualmente maravilhoso, com belas músicas para os momentos tristes e alegres, tudo o que Hollywood sabe fazer dentro do gênero, principalmente quando tem bons intérpretes envolvidos. No caso, Hugh Jackman, excelente como sempre, Michelle Williams, Rebecca Ferguson e Zac Efron e Zendaya (ídolos teen), entre outros. O timming é perfeito e os números musicais e trilha sonora são realmente muitíssimo bem realizados e belíssimos. Magia pura. Quanto ao roteiro, porém, fica um pouco a dever em termos de criatividade, repetindo os clichês que garantem a emoção do espectador, embora tenha seus momentos marcantes. O fato é que se trata aqui de uma adaptação livre e romanceada dos feitos do “pai do circo moderno”, o showman P.T. Bardum, um homem repleto de sonhos e capaz de contagiar com eles todos à sua volta. E de um filme visual e de impacto com a combinação invencível imagens + músicas. O nome aqui é “fantasia”! Concorre a Melhor Filme, Melhor ator e Melhor canção no próximo Globo de Ouro – a música concorrente é This is me, embora pelo maravilhoso momento em que Never enought é cantada e por sua beleza, talvez merecesse a preferência.   8,5

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I, TONIA

Este é um filme biográfico, estilo documentário. A narrativa e os depoimentos dos personagens que participaram dos fatos são típicos e enfocam a vida da polêmica ex-patinadora americana Tonya Harding, muitíssimo bem interpretada pela atriz Margot Robbie. É mostrada uma vida muito difícil, com a falta de um pai a partir de certa época e os maltratos desde a infância (passando pelos do marido), mas principalmente pela vida espartana imposta pela mãe desde os quatro anos da menina, mãe, aliás, muito bem vivida pela atriz Allison Janney. Ambas concorrem no Globo de Ouro de janeiro (2018), nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante e o filme como Melhor Filme. É impressionante alguém ter disciplina e obstinação para superar todas as adversidades e ainda assim tornar-se uma celebridade e representante dos EUA nos maiores torneios de patinação do mundo. Mas o ponto nevrálgico e que acentua o caráter dramático do filme foi o incidente envolvendo a concorrente de Tonya, a patinadora Nancy Kerrigan, acontecimento que toma conta de toda a parte final. Foi um dos maiores escândalos esportivos da história. Nos créditos, cenas da vida real, inclusive com a verdadeira Harding apresentando o estupendo e corajoso movimento conhecido como triple axel, um dos mais ousados e difíceis da patinação e antes de Tonya nunca tentado antes em competições femininas internacionais.  7,8

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TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME (THREE BILLBOARDS OUTSIDE EBBING, MISSOURI)

O filme se passa em uma daquelas cidadezinhas americanas, onde ainda existe um xerife e seus ajudantes, mas nada muito importante a fazer.. É um drama com algum humor negro, podendo ser enquadrado até, pelos usos e costumes, como um faroeste contemporâneo. Na verdade, o gênero do filme é o que menos importa no roteiro do também (excelente) diretor Martin McDonagh. A partir dos fatos relacionados com o título do filme (três outdoors comprados pela protagonista), toda a história se desenrolará, repleta de dramas, suspense e mistério. Com algumas surpresas, tornando o filme agradavelmente imprevisível. Os fatos ganham vida, não apenas pelo mérito da direção, edição e produção, mas por serem protagonizados por um grande elenco, principalmente por Woody Harrelson (que interpreta o xerife), Sam Rockwell (que faz o ajudante “desequilibrado”) e a coringa Frances McDormand, uma das maiores atrizes do cinema atual. Ela é a verdadeira responsável pelo sucesso da história e pela forma como traz as cores de uma personagem sofrida e brigada com a lei. Todos os elementos do filme são muito bem dosados, não há excessos, não há senões, é uma sucessão de fatos e desdobramentos, que o espectador vai acompanhando com interesse e apenas tentando supor seu desenlace. Mas nesse tipo de filme qualquer previsão é arriscada. É algo muito bem articulado e na medida certa. Também contando com Peter Dinklage, o filme concorre ao próximo Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme/Drama, Diretor, Roteiro, Atriz, Ator coadjuvante e Trilha sonora. Cinema de alta qualidade, com um título ótimo e original e um poster que tudo e nada diz ao mesmo tempo, o que também o valoriza.   9,0

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THE ONLY LIVING BOY IN NEW YORK

Um filme moderno, com inquietações modernas, envolvendo relações pais e filhos, busca da identidade, referências literárias e musicais, glamour social e com um roteiro com algumas surpresas. Esse é o lado positivo. Porque é um filme polêmico. Há muitos opositores, inclusive com relação ao personagem interpretado por Callum Turner, que é supervalorizado no filme, sem ter o merecimento adequado (nisso estou de acordo – o personagem oscila muitas vezes). Igualmente concordo no tocante aos clichês e quanto ao roteiro claudicante às vezes, com algumas contradições). Porém é um filme diferente, gostoso de se ver, produção independente, que tem a bela Kate Beckinsale, o carismático Pierce Brosnam e o sempre “inesperado” e pastoso Jeff Bridges, além de Cynthia Nixon e outros mais. E seu título é o nome de uma canção de Paul Simon e que faz parte do famoso álbum “Bridge over Troubled Water” (1970). Então, apesar dos pesares, é algo que tem seus pontos positivos superando os negativos no cômputo final.  7,8

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VICTÓRIA AND ABDUL – O CONFIDENTE DA RAINHA

Judi Dench já deve estar cansada de fazer papel de Rainha da Inglaterra e equivalentes. Mas, fazer o quê??? Ela é maravilhosa nesses papéis! Na verdade, em qualquer papel. Uma fabulosa atriz. Que no caso interpreta o papel da Rainha Vitória da Inglaterra (que reinou de 1837 a 1901, era conhecida como Vitoriana), nas décadas em que a Índia foi colônia britânica. Esse fato é vital para configurar não apenas a época, mas o clima de submissão que reinava, da opressora em relação à oprimida (a Índia só viria a conquistar sua independência em 1947). E justamente por esse motivo, acabou sendo um fato absolutamente marcante e insólito a aproximação que acabou acontecendo entre a rainha e um indiano muçulmano, que viajou para a Inglaterra com a única finalidade de presentear a realeza em seu jubileu, em nome dos colonizados. O foco principal do filme é precisamente a respeito da relação que nasce entre dois seres tão diferentes, tanto na essência, como na geografia, costumes e principalmente na escala social; e com tal força, que provocou não apenas uma comoção no Reino, mas a total exclusão posterior dos fatos dos anais ingleses. Pena que o filme não vá além dessa relação e das consequências imediatas que tal interação provocou, deixando de explorar todas as palpitantes temáticas que orbitavam ao redor dessa amizade surpreendente.  7,5

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LADY BIRD

Mesmo fazendo papel de uma jovem com menos de 18 anos, a atriz Saiorse Ronan cresceu desde Desejo e reparação (passando por Um olhar do paraíso, Hanna e Brooklyn, entre outros). É ela a alma deste filme, embora todas as atuações sejam muito boas, principalmente da atriz Laurie Metcalf, que faz sua mãe. E não é à toa o cognome com que ela mesma se batiza – e que dá título ao filme -, pois a história, deliciosa e despretensiosa, é sobre a chegada da maturidade, os ritos de passagem. Aliás, “filha e mãe” concorrem no Globo de Ouro de janeiro próximo (2018), como Melhor Atriz e Melhor Atriz Coajuvante. E o filme igualmente, como Melhor Filme Comédia/Musical e Melhor Roteiro. Nada que já não tenha sido visto antes (e melhor até), mas aqui feito com muita competência, sensibilidade e sob alguns aspectos até originalidade. O filme retrata fatos do início do século XXI, os quais são comuns a dezenas e dezenas de produções americanas: o momento em que os jovens estão terminando o “colegial” (no Brasil, o segundo grau) e se preparam para começar a “vida séria” (da Faculdade). Para tanto, habilitam-se e se inscrevem nas melhores universidades, as quais possuem vagas limitadas e geralmente escolhem os novos estudantes por critérios de merecimento. Obviamente os jovens tentam todas as alternativas possíveis (nem sempre seu propósito coincidindo com o dos pais…) e o fato vai levar inexoravelmente a uma mudança radical de vida, tanto para o jovem que parte, como para os pais que ficam e que veem o filho (a filha, no caso) voar, inapelavelmente. 7,8

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A GUERRA DOS SEXOS

Valendo-se de um famoso episódio envolvendo a campeã americana de tênis, Billie Jean King, os mesmos cineastas de A pequena Miss Sunshine abordam aqui – parecendo não movimentar bandeiras, porém -, de forma leve e divertida, questões envolvendo a igualdade de gêneros. No caso, o estopim – já que o filme é baseado em fatos – foi o prêmio destinado ao vencedor masculino de um torneio, comparado com o atribuído à vencedora feminina (o masculino em valor 8 vezes maior). Os anos 70 parecem estar de volta, com  aquele clima todo, ambientes bem retratados, bem como as fortes cores feministas, neste drama-comédia que resgata todo aquele clima machista já conhecido, mostrando a luta das mulheres pela subida dos degraus de separação e a resistência masculina. E um jogo de tênis acaba sendo o símbolo de tudo, dando inclusive nome ao filme. Aqui, ou seja, a reconstituição do jogo de 1973, foi o único ponto de que não gostei muito (achei meio “capenga”). Mas o filme vai além dessa “guerra entre homens que querem manter as mulheres cuidando da casa e mulheres que desejam se igualar aos homens”, explorando importante questão sexual paralelamente (e praticamente insolúvel naquela época), tema que pode ser sintetizado naquilo que o personagem (ótimo) de Alan Cumming diz no ouvido de Billie Jean, ao lhe dar o abraço de boa sorte. Também participam do filme, entre outros, Bill Pullman e Elisabeth Shue. Quanto aos protagonistas, Emma Stone e Steve Carell, concorrem, respectivamente, a Melhor Atriz Comédia/Musical e Melhor Ator Comédia/Musical no próximo Globo de Ouro (7/1/18).  8,2

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BLADE RUNNER 2049

Após escrever minha resenha, visito alguns sites e leio algumas coisas sobre o filme, para acrescentar informações interessantes aos comentários que faço (o que nem sempre ocorre). No caso, as críticas que li a este filme enfocam basicamente dois pontos: a longa duração e a parte a partir da qual Harrison Ford aparece. Discordo de ambas as vertentes. Em primeiro lugar, trata-se de uma obra singular, que reverencia e homenageia o cult de Ridley Scott (Blade Runner Caçador de Andróides, de 1982), inclusive preservando o clima futurista, o visual, as luzes de neon, o ambiente decadente, os carros voadores, a cidade mergulhada em sombras e chuva permanente e a superpopulação, em uma concepção bem semelhante à do original, acrescentadas algumas inovações sutis, como os hologramas fabulosos. E isso não é fácil realizar. Necessita de um trabalho extremamente competente, direção de arte, fotografia, montagem, produção extraordinária…E por tudo isso, um diretor como Denis Villeneuve, que tem a ousadia de dar continuidade ao clássico e o faz com tamanha competência, pode ser dar ao luxo de fazer um longa-metragem. E os fãs do filme certamente agradecemos, porque com isso mais fatos e mais emoções sobrevêm ao longo do filme, que inclusive amplia as questões filosóficas do anterior! Em segundo lugar, Harrison Ford é um ator veteraníssimo, mas possui um carisma e um magnetismo difíceis de igualar. Se não fosse isso, ainda existe a favor dele o vínculo  com os fatos do filme anterior, o que faz de sua aparição um grande feito e algo tão marcante, que realmente ocorrem mudanças radicais, até de ritmo e de gênero, passando a ser um filme de fantásticos efeitos e de ação e emoção intensas. Há cenas de sobra para emocionar os fãs, mas a alma do filme permanece como sendo a da busca incessante pelas origens e o destino do Homem. E o que essa simbiose de humanos e replicantes fornece é, além disso, matéria de sobra para muitos temas entrelaçados, como o sentido da existência, a identidade (vinculada às memórias!), os conflitos e preconceitos sociais, a ambição…tudo desaguando na leitura mais simples e humana que é a da sobrevivência e do afeto. Há cenas memoráveis, como a primeira em que é citado o nome de Rachael, como a da nave que cai na água e  sequência e mais do que reverencial, inesquecível também, a de Ryan Gosling (que tem uma excelente atuação e honra o importantíssimo papel que faz), que ao se deitar nos degraus sob a neve atrai a mesma música da qual todos os fãs vão recordar, de momento vital do Blade Runner de 1982 e que causará aqui igualmente um impacto enorme! Pena que a trilha sonora não esteja à altura do primeiro filme, mas aí já seria pedir demais! Destaque também para o versátil Jared Leto, assim como para as jovens e novatas atrizes, que já demonstram claramente um brilho futuro. Mas, lado técnico e atores à parte, com esse trabalho o diretor Denis Villeneuve – que já deu ao cinema grandes obras como Incêndios, Os suspeitos, Sicário terra de ninguém, A chegada – consagra-se definitivamente na história da sétima arte. Detalhe: Ridley Scott desejou permanecer apenas como produtor executivo.  9,7

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O ESTRANGEIRO (THE FOREIGNER)

Atenção fãs de filmes de espionagem. Este é um filme imperdível. E mais: esqueçam a associação de Jackie Chan com seus personagens de lutas marciais e de Pierce Brosnam com o OO7. Ambos fazem aqui papéis diferentes, mas o desafio – pela total diversidade de personagem com os que comumente interpreta – é de Jackie, que se sai magistralmente bem. Se apenas lido o roteiro, ou seja, no papel, poderia ser um filme adequado a uma sessão da tarde ou a um fim de noite. Mas é muito mais. É um filme extremamente bem produzido, editado (ritmo), com trilha sonora, som e ótimos efeitos e com uma ótima atuação do elenco, todos os fatores desaguando na direção excelente de Martin Campbell (A máscara do Zorro, Lanterna Verde, Cassino Royale…) e que retira o filme do comum e o coloca em um patamar de destaque, unindo qualidade e diversão. Lembra vagamente aqueles filmes antigos de Charles Bronson (atualmente Liam Neeson), tem suspense, drama e ação muito bem dosados e que fazem às vezes recordar os bons filmes de James Bond. Afinal, é a Velha Mãe Inglaterra em foco. Mas é algo diferente, com história e adrenalina especiais e adequados aos tempos de hoje, principalmente em sua parte final, que é simplesmente espetacular. Tudo desaguando na última cena, bela como uma noite de Natal (dia em que vi o filme).  8,8

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THE PARTY

O texto seria também – e muito – próprio aos palcos teatrais, uma vez que as cenas se passam em poucos aposentos de um casa londrina, envolvendo toda a trama e todos os personagens, que permanecem em cena todo o tempo. Porque a riqueza do filme é justamente o seu roteiro (obviamente com um elenco afiado), que mistura habilmente crítica social, farsa, tragédia, humor (no caso sarcástico ou negro) e drama: como se todas as tempestades desaguassem e transformassem em caos momentos que deveriam ser destinados a uma comemoração honrosa. Não é um texto dono dos maiores aprofundamentos dramáticos, mas consiste em algo interessante, bem feito e que cumpre a missão a que veio e diverte, saindo bastante do lugar-comum (o que já é uma grande virtude). Tocado como drama farsesco, com uma deliciosa e proposital trilha sonora, o filme tem um ótimo acabamento e um final surpresa, embora provavelmente vá agradar mais os espectadores que também gostam de teatro. O elenco é estelar: Kristin Scott Thomas e Patrícia Clarkson soberbas, seguidas por Emily Mortimer, Cherry Jones, Bruno Ganz (fabuloso também), Timothy Spall e Cillian Murphy.  7,8

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LA TENEREZZA (A TERNURA)

O que sentimos em nossa alma quando a vida parece nos permitir recomeçar certos caminhos e tentar corrigir os erros? Mas, primeiramente, cabe fazer um alerta: apesar de se tratar de um filme de conteúdo, ótimo elenco, direção, produção, tudo no lugar, italiano, é um drama pesado, que trata de algumas questões difíceis e que causarão algum impacto, aliás, como a própria vida o faz às vezes. Assim, aqui o conceito de “diversão” fica um pouco afastado, para nos concentrarmos exclusivamente na sétima arte que é o cinema e suas outras diversas facetas além do puro entretenimento. Este é um filme, então, a ser apreciado pelo público adequado e, principalmente, em um momento propício. Porque seu protagonista é um homem velho, cínico em seu amargor e sua história desfila muitas dores. As quais Renato Carpentieri traz à tela com maestria, protagonizando a história de um homem já na terceira idade, que vive só e que vê nos filhos já adultos os inquietos “ratos herdeiros em busca de queijo”, tendo inclusive a percepção de que com o tempo deixou de amá-los. Mas em um cenário de dias que se sucedem, a rotina subitamente vai mudar e a existência correta e monótona do velho homem será afetada, iniciando então o verdadeiro drama, a partir do qual diversas reflexões e ações acontecerão (felicidade, solidão, perdas, conflito de gerações, comportamento da juventude atual…). Lentamente. Porém, profundamente. E a cena final, sutil, belíssima para muitos, possui um significado de grandeza sem tamanho para coroar toda uma história esculpida ao longo do tempo e de muitas cicatrizes, abrindo janelas que haverão de se banhar de sol. Com Giovanna Mezzogiorno interpretando a filha e Micaela Ramazzotti a vizinha, um filme dirigido por Gianni Amélio e que ganhou quatro importantíssimos prêmios Nastro – concedido anualmente e há mais de 70 anos pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas de Cinema Italianos, que é a associação dos críticos de cinema italianos – : Melhor Filme, Diretor, Ator e Fotografia (Luca Bigazzi).  8,0

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DEPOIS DAQUELA MONTANHA (A MONTAIN BETWEEN US)

Desta vez o título ruim é no original mesmo e não na nossa tradução. Certamente uma razão comercial é que fez darem um nome tão infeliz e ridículo ao filme. E a “chamada” do cartaz também não tem qualquer inspiração. Então, pela primeira vez, o nome em português é muito melhor do que o em inglês! Mas na verdade, após alguns minutos já se adivinha mais da metade do filme, porque dezenas e dezenas já tiveram temática parecida. O que salva aqui é apenas uma leve curiosidade a respeito de como os fatos vão ocorrer e na parte final se especula se realmente vai haver o desfecho imaginado ou não. Filme para sessão da tarde, porém com dois diferenciais: os 20 minutos finais valorizam o filme e por certo devem  ter feito muitos leitores perderem o fôlego ao ler o livro no qual foi baseado; e a dupla de protagonistas: se Idris Elba é um ator muito bom e carismático (“Luther”), Kate Winslet é maravilhosa. Esses dois detalhes fazem com que o filme saia um pouco da média em que ficou praticamente durante toda a sua exibição e valer a pena dar uma espiada.  7,8

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BAD GENIUS

Um filme extremamente original. Pelo menos eu nunca havia visto algo cujo enfoque é o ensino médio e o sofisticado sistema de “colas” em provas, permeado pela busca das oportunidades e das estreitas aberturas que poucos conseguem atravessar. O filme apresenta as difíceis etapas do estudo e a necessidade de se eliminar cada etapa, o que nem todos conseguem fazer sozinhos e por seus méritos, necessitando da ajuda dos “gênios” da turma. A dinâmica do filme enfocando as provas e os métodos elaborados para tentar burlar a vigilância do professor é muito interessante…apreciamos as cenas das provas com ritmo e tensão, como se fossem cenas de filmes de ação, com muito suspense e emoção. O filme discute muito a ética, o que no Oriente é muito mais grave do que por aqui, bem como as tradições e a honra, que deve passar através das gerações. E há um plano maior, destinado a burlar um concurso realizado no mundo todo e ao mesmo tempo! Surpresas irão acontecer e nessa fase do filme o espectador já está mergulhado no enredo, de corpo todo. Porque a sofisticação é tanta, que fica se perguntando se o filme não é baseado em fatos reais. No caso, é o representante da Tailândia no concurso do Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro.  8,5

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COMO NOSSOS PAIS

Este filme ganhou simplesmente seis Kikitos no Festival de Gramado 2017: melhor filme, melhor montagem, melhor direção (Laís Bodanzky), melhor ator (Paulo Vilhena), melhor atriz (Maria Ribeiro, sensacional) e melhor atriz coadjuvante (Clarisse Abujamra, maravilhosa). E não foi à toa, porque é uma produção nacional que se concentra nos “pequenos grandes temas/dramas” dos seres humanos: relacionamento de casais, de  mãe com filha, mãe com filhas…conflitos domésticos e da mulher contemporânea, em um mundo que continua dominado pelos homens, os quais – não sem propósito – figuram no filme como um exemplo até estereotipado (mesmo o pai, muito bem interpretado por Jorge Mautner). O filme fala sobre os dilemas do casamento, sobre as difíceis relações verticais, sobre a hipocrisia social e a invisível opressão das mulheres e tudo se desdobra a partir de um fato que acontece logo em seu início: uma confissão, absolutamente desnorteadora para quem a recebe, e que vai mudar toda uma linha de pensamento e de conduta. Não é um filme perfeito, mas certamente de ótimos diálogos e de grandes momentos, como a sessão de terapia do casal, a cena do sapato vermelho, as conversas entre a mãe fumante e a filha, a cena sutil e pungente do piano quase ao final, inclusive com a música – a obra-prima de Belchior -, de alto significado e que dá nome ao filme….E o final valoriza ainda mais o tema, abrindo para o futuro as vastas possibilidades.  8,5