LIGAÇÕES PERIGOSAS
Um filme invulgar de 1988, baseado em peça teatral, que por sua vez se inspirou na literatura francesa. Em polêmica e proibida literatura francesa, diga-se. Charmoso, perfeccionista e sobretudo forte e sensual filme, com jogos de sedução caprichosamente detalhados em imagens muito bem coordenadas. Os detalhes, os olhares, as nuances, tudo compõe uma sintonia de paixão, sedução, perversidade, maldade…A música maravilhosa (inclusive clássica e barroca) nos coloca em meio à época e aos costumes, detalhados nos closes da câmera. Merecidíssimos, portanto, os Oscar de Figurino e Direção de Arte. Todo o aparato da nobreza ressaltado nos magníficos cenários dos palácios, da suntuosidade, dos jardins e lacaios, dos grandes salões…E ao longo do filme a trilha sonora é mais do que adequada! Mas os personagens é que são o seu maior fascínio. Mestres da manipulação e do controle…crueldade…vaidade…mas por quanto tempo? Qual o limite? Não haverá sobressaltos? John Malkovich e Glenn Close estão soberbos nos papéis que desempenham. O jogo entre os dois personagens na parte final do filme é memorável. Atuações realmente notáveis e Uma Thurman e principalmente Michele Pfeiffer extraordinárias. Ainda tem o iniciante Keanu Reeves no ótimo elenco.. Um roteiro excelente, uma reconstituição de época mais do que perfeita, um clima e uma direção fabulosas de Stephen Frears, em seu primeiro trabalho nos EUA. Mais do que a atraente composição dos fatos, seus desdobramentos ganham força e inevitável atração. Diálogos ágeis e afiados, um exemplo, a velha dizendo à mais jovem: ”O que surpreende é o quão pouco o mundo mudou”. E diante do pedido de conselho pela jovem apaixonada, a mais velha replica: “Se bem me lembro, conselhos de nada adiantam”. O filme também ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado e o Cesar (Oscar francês) de melhor filme, além do Bafta (Oscar inglês, para Cinema e TV), de atriz coadjuvante para Michele Pfeiffer (mais o de melhor roteiro), a inesquecível Madame de Tourvel. A parte final do filme, tratando do destino dos personagens, é algo espetacular e a cena final pungente. Trata-se de uma obra magnífica e uma das grandes injustiças do cinema, porque Glenn Close não poderia deixar de ganhar um prêmio pela maior atuação que já teve na carreira e o filme certamente merecia o Oscar (embora fosse o ano do muito inferior Rain man) . 9,5