INOCÊNCIA ROUBADA (LES CHATOUILLES)

A temática deste filme francês de 2018 já foi abordada e muito bem no filme The tale, estrelado por Laura Dern, que inclusive ganhou prêmios por sua interpretação. Mas aqui, até porque produção francesa e por se tratar de culturas diferentes, o enfoque é outro, embora o impacto não seja diferente. É um filme que utiliza recursos de flashback e convivência simultânea de presente e passado na mesma tela, para enfatizar as pesadas consequências que certos atos vividos na infância causam na vida das mulheres. O filme discute a intensidade dos traumas, se eles têm a possibilidade de serem curados, quais seriam as saídas, bem como a realidade como é, tanto pela dificuldade de as vítimas relatarem o mal no momento em que ocorre (enaltecendo a confiança de que geralmente gozam os criminosos, em relação à família e à própria vítima), como pela punição geralmente sem sentido temporal e corretivo daqueles. É um filme que mostra que a vida continua, mas que não é fácil tanto se livrar das pesadas chagas, como disfarça-las nos mais rotineiros atos, que acabam, vez ou outra, revelando a existência e gravidade dos segredos geralmente muito bem guardados. Um filme que emociona, impacta, gera indignação, sensibiliza e cumpre o seu papel, sem grandes pretensões, mas com eficiência e cores fortes de realidade. O título em francês significa “As cócegas” e seu significado é evidente dentro do contexto. Embora polêmico no gosto do público e de parte da crítica (recebendo as mais variadas apreciações), foi ganhador de alguns prêmios em Cannes (Un certain regard) e ganhou o Cesar (Oscar francês) de Melhor Adaptação e Atriz Coadjuvante (Karin Viard, a mãe), tendo sido indicado também para as categorias de Ator Coadjuvante (Clovis Cornillac), Montagem e Melhor Primeiro Filme (da diretora Andréa Bescond, que é também a protagonista).  8,7