GUERRA FRIA (COLD WAR)

Um filme em belíssimo preto e branco (certamente para dar o clima) que enfoca a Polônia do pós-guerra, precisamente a partir de 1949. No começo do filme já somos envolvidos com o folclore rural, com a escola de canto e danças típicas camponesas, tudo muito interessante: a “capela” (solo vocal) emociona, a difícil peça no piano arrebata e os fatos vão acontecendo aos poucos e confirmando a beleza da fotografia, o excelente figurino e a perfeita reconstituição de época, além do ótimo roteiro, que vai devagar acentuando o mérito do excelente diretor Pawel Pawlikowski (Ida) e da maravilhosa atriz Joana Kulig. As músicas em vocal são belas e chama a atenção a inocência das letras, que falam de um amor puro. Entretanto esse painel vai mudar com a introdução de temas políticos às canções, a partir do momento em que a escola vai também “servir” ao regime: nesse aspecto, em uma das cenas é visível o constrangimento dos diretores da escola Mazurka, enquanto o coral se apresenta para um público externo e na parte de trás do palco sobe um painel com a foto de Stalin: a Polônia, cujas baixas na segunda guerra chegaram a 20% da população, acabou instaurando um sistema socialista (seguindo alguns modelos russos). E desde o início surge e vai se aprofundando uma relação amorosa que afinal é o tema central do filme e que sobrevive com dificuldades em meio e ao sabor dos fatos políticos, geográficos (Polônia, Alemanha, Rússia, Iugoslávia, França…) e da própria passagem do tempo. E ao constatarmos que as letras das canções mantêm a pureza que a frieza do regime não conseguiu vencer, igualmente somos inebriados pela força inabalável do amor, o sentimento mais solitário do mundo, mas que a tudo pode transcender. Nos emocionamos com belíssimas cenas de felicidade, instantes mágicos como o de Zula cantando blues ou dançando rock!. Assim como há momentos dolorosos de distância, de impossibilidades e um impressionante sacrifício em nome do amor, tudo desaguando no final em um memorável momento que também evoca Shakespeare. Em resumo, uma belíssima obra, um filme de música, amor e dor, que ganhou diversos prêmios europeus (filme, diretor, roteiro, atriz) e concorre ao Oscar de Diretor, Fotografia e Melhor filme estrangeiro.  9,0