DESCULPE, VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI

Este é o mais novo e contundente filme do cineasta britânico Ken Loach (83 anos), veterano diretor e que ganhou inúmeros prêmios com seu trabalho anterior, “Eu, Daniel Blake”, incluindo a Palma de Ouro, o Cesar (Oscar francês) e o Bafta (Oscar britânico). Mais uma vez a temática é social e o trabalho bastante aprofundado e eloquente. Porque escancara uma realidade talvez pouco explorada pelo cinema e que parece legalizada/institucionalizada. Obviamente não se trata aqui de cinema fantasia, ou cinema diversão. Os fatos transpostos para a tela mostram graves aspectos das atuais relações de trabalho, nas quais a autonomia e o empreendedorismo são fictícios, existindo na verdade uma crua, voluntária e inexorável exploração da mão de obra, colocada quase em nível de escravidão, quando os tempos evoluídos reclamam exatamente o oposto. Tudo se passando dentro de um sistema em que o tipo de contrato retratado parece plenamente institucionalizado dentro da conservadora sociedade inglesa. O turbilhão que vai se formando e fortalecendo inclusive provoca em nós instantânea identificação com o sistema brasileiro, com a diferença de que, após os danos feitos, no Brasil se pode reivindicar direitos no Judiciário, ao contrário do que ocorre na Inglaterra, EUA e alguns outros países. É um filme ideológico e que mostra todas as consequências desse desequilíbrio entre capital e trabalho, principalmente no núcleo familiar, que é o foco principal do filme, do qual vão se extraindo, pouco a pouco e progressivamente, as consequências daquela nociva relação de trabalho. Ficamos chocados ao acompanhar tais decorrências, avaliamos a imperatividade da união familiar, a força da mãe da família, os problemas cotidianos que agravam ainda mais os fatos, mas parece a certas alturas não haver saída. O filme é bastante sério, funciona perfeitamente como uma denúncia, sendo extremamente bem dirigido e interpretado, tendo também o mérito de colocar o espectador em meio aos conflitos que vão sendo expostos sem concessões. Depois de tudo, de fato não haveria como ser outro o seu final. 9,0