CLAMOR DO SEXO (SPLENDOR IN THE GRASS)

Este filme é de 1961 e retrata fatos a partir do ano de 1928 (lembrando que no ano seguinte ocorreu a grande quebra da Bolsa de NY). Apesar do caráter universal da arte, provavelmente ficarão mais tocados por ele os mais antigos, principalmente das gerações que vivenciaram os fatos que constituem sua temática: a repressão sexual dos jovens dentro da educação conservadora e da moral puritana da época (e de muitas décadas após), com seus valores rígidos e o engessamento da liberdade dos jovens, principalmente das moças no que se referia ao seu comportamento social: delas se exigia um comportamento bem diferente da conduta dos rapazes (elas tinham que casar virgens, eles poderiam “resolver” seus problemas em prostíbulos ou com moças de má fama). Dentro desse contexto, o título do filme em português não está totalmente fora do tema, entretanto é absolutamente grosseiro e lembra inclusive nome de filmes típicos das pornochanchadas da década de 70! Já o nome original “Esplendor na relva” é poético, evocativo e de profundo significado dentro do filme (há uma cena específica, envolvendo a professora, a aluna e a interpretação da parte do poema adiante transcrita): é uma homenagem ao poeta americano William Wordsworth (1770-1850), que compôs essa Ode “Prenúncios da imortalidade” em 1802 (que pode ser lida e ouvida no endereço: http://www.teatrodomundo.com.br/prenuncios-da-imortalidade-recolhidos-da-mais-tenra-infancia/) e da qual se extrai o trecho que tem fundamental importância no filme: “A luz que brilhava tão intensamente foi agora arrancada de meus olhos. E embora nada possa devolver os momentos de esplendor na relva e de glória nas flores, não sofreremos, melhor, encontraremos força no que ficou pra trás”. Este filme fala da juventude com suas aspirações, desejos, revoltas, da repressão aos jovens sob o ponto de vista sexual, mas também no aspecto vocacional, mostrando que as expectativas dos pais muitas vezes prevaleciam sobre as tendências e vontades dos jovens, muitos dos quais acabavam se submetendo, por temor, por respeito ou mesmo pela falta de meios ou de coragem para se rebelarem. E mostra também as consequências danosas da referida repressão, o que no caso é representado pela protagonista interpretada maravilhosamente pela bela Natalie Wood, então com 22 anos e indicada por esse papel para vários prêmios de melhor atriz, incluindo o Oscar e o Globo de Ouro. Foi a estreia no cinema do ator Warren Beatty, com 24 anos (que viveu com Wood um romance fora das telas), que além de galã demonstrou um grande talento dramático, a ponto de receber o Globo de ouro como Estrela Masculina Revelação do Ano. Mas todo o elenco é muito bom, passando pela ótima Bárbara Loden (a irmã de Bud), por Pat Hingle (o pai de Bud), Audrey Christie (Mrs. Loomis), Sandy Dennis (Kay) etc, sendo fundamental para a grandeza do filme a direção competentíssima do grande Elia Kazan (A luz é para todos, Uma rua chamada pecado, Viva Zapata, Sindicato de ladrões, Vidas amargas, Um rosto na multidão etc).  Oportuno lembrar que na época da produção ainda estava em vigor o Código Hays (pelo qual a partir de 1934 os filmes passaram a sofrer “cortes” da censura) e que os censores e a Legião Católica da Decência exigiram neste caso a supressão de grande parte de uma cena, no caso a de Wilma Dean Loomis (Deanni Loomis) saindo da banheira, correndo nua pelo corredor e se atirando de bruços na cama: acabamos vendo no filme apenas um “pulo” da personagem, da banheira diretamente para a cama. O roteiro é muito bem construído (o único Oscar do filme foi o de Melhor roteiro original) e sua parte final particularmente esplêndida, embora também de certa forma dolorosa (a consciência da finitude pode ser muito doída, principalmente para os jovens), com um fecho profundamente coerente com todo o enredo (e com o próprio título do filme). Este filme ainda hoje continua tendo grande significado e não apenas cinematográfico, por alguns sendo considerado uma obra-prima e definitiva sobre o amor e o desejo dos jovens; e para muitos, Deannie Loomis permanecerá como um símbolo imorredouro, em outras palavras, uma paixão devastadora e permanente, como declarou o poeta e ensaísta português Ruy Belo, na década de 60 em seu soneto “Esplendor na relva” (informação retirada do “Blog do rato cinéfilo”), que inicia dessa forma: “Eu sei que Deannie Loomis não existe, mas entre as mais essa mulher caminha e a sua evolução segue uma linha que à imaginação pura resiste. 9,4