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AS VIRGENS SUICIDAS

Este filme, magnificamente dirigido por Sofia Coppola (Maria Antonieta, Encontros e desencontros…) e lançado no ano 2000, não é um filme fácil. Porque no fundo não tem nada cor-de-rosa, como a aparência poderia fazer supor. Aliás, o próprio roteiro já de início deixa claro que sob o verniz de beleza e normalidade algo muito grave se passava naquela casa, com aquela família. De um lado meninas aparentemente felizes, normais e sonhadoras. Mas de outro, um pai ausente, alienado, entorpecido, apático (o ótimo James Woods) e uma mãe atenta, dominadora, mas fanática (a ótima Kathleen Turner). O efeito de tudo isso e da puritana educação é explosivo e brutal, no represamento da liberdade, na impossibilidade da comunicação, nas consequências que provoca nas jovens e frescas mentes e expectativas. O filme é fortíssimo na ironia/humor negro e na crítica do politicamente correto, sendo sufocante e perturbador na sua falta de convencionalidade para tentar mostrar o convencional. Embora sob um poderoso olhar feminino. Inclusive ao mostrar um mundo de diferenças claras entre meninos e meninas. Muitas cenas são marcantes e reveladoras do contexto referido, como a da mãe fazendo a filha se desfazer de todos os seus discos de rock, a dos olhos tristes da Lux, acentuando a impossibilidade do rompimento, a impotência…a falta de saída possível, a emoção e a insegurança do primeiro baile, o beijo escondido…E a parte final do filme é absolutamente melancólica, a partir do corte do salgueiro e da cobertura da TV, retratando amargamente uma juventude sufocada por caminhos que não escolheu, sendo obrigada a seguir o modelo planejado pelos pais e até sendo antecipado para os anos 70 um problema que viria acometer, décadas mais tarde, tanto jovens quanto adultos aos milhares e que é a depressão, um grande desafio do mundo moderno. Um filme que mostra a juventude enclausurada, sendo por isso bastante nostálgico e dolorido, embora emoldurado com belos clássicos da música (Run to me, Alone again, How can you mend a broken heart…) e já revelando a sensualidade e o talento da atriz iniciante à época Kirsten Dunst. Finaliza com lacunas, como o faz a própria vida, ao testar permanentemente nossos sentimentos e deixar muitas possibilidades abertas e nenhuma resposta.  9,2