BELINDA (JOHNNY BELINDA)

O mais espantoso sobre este filme de 1948 é que ele seja praticamente desconhecido. Porque pelas qualidades que tem, mereceria figurar entre os grandes filmes do cinema. E na verdade muito pouco se falou ou fala dele. A causa provável desse fato é ter sido ganhador apenas do Oscar de Melhor atriz e não de outros (para os quais concorreu), embora possa ter sido simplesmente mal divulgado ou simplesmente caído no esquecimento. Mas é uma belíssima obra cinematográfica e foi indicada simplesmente a 12 Oscars! Além de indicado ao prêmio de Melhor atriz, também concorreu nas seguintes categorias: Melhor filme, diretor, roteiro, edição, ator, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, trilha sonora, fotografia, direção de arte em p&b e som. A atriz Jane Wyman -na época no final do casamento com Ronald Reagan- faz papel de uma surda-muda e interpreta esse papel aparentemente “modesto” de forma magnífica (a cena da oração na linguagem de sinais, entre outras, é muito marcante), tendo além do Oscar ganho também o Globo de Ouro – a curiosidade é que seu discurso ao receber o Oscar foi o mais sintético da história, pois disse apenas que havia ganho a estatueta por manter a boca fechada e continuaria a mantê-la assim! Fora ela, os atores Lew Ayres (que faz um personagem magnífico!) e Charles Bickford (um homem rude, mas que luta com isso, com sua sensatez e sensibilidade) e a atriz Agnes Moorehead (que faria o papel de Endora na série A feiticeira) também apresentam performance de excelência. O elenco, na verdade, é todo afinado. O diretor é o romeno Jean Negulesco, que tudo conduz com muita firmeza, havendo além disso um ótimo trabalho de edição e uma fotografia e trilha sonora (Max Steiner) belíssimas, complementando a harmonia do conjunto: há momentos, em que o equilíbrio entre a belíssima atuação de Wyman, a fotografia e a ora palpitante, ora doce, trilha sonora nos provocam as mesmas emoções dos filmes de Chaplin.  Claro, porque o roteiro também é ótimo, repleto de nuances em torno de temas universais, como o amor, o ódio, a cobiça, os valores e preconceitos provincianos, sendo o palco uma aldeia de pescadores. Um filme tocante e que nos traz ao final sentimentos elevados e a sensação da visão de uma grande obra. Baseado em peça de teatro – que, por sua vez, inspirou-se em fatos reais -, o filme acabou ganhando o Globo de Ouro de Melhor filme (empatado com O tesouro de Sierra Madre), embora tenha ficado sem o Oscar (que coube a Hamlet).  9,5