AS QUATRO CONFISSÕES (THE OUTRAGE)

Nos créditos do próprio filme, feito em 1964, consta que foi baseado no filme Rashomon de Akira Kurosawa (1950). Não foi apenas baseado: foi praticamente copiado, quase um plágio. Com alguns diferenciais, porém. O filme do Kurosawa 1950 é muito bom, mais impregnado de filosofia expressa, mais bem elaborado na direção etc., mas gostei mais deste: acho algumas interpretações japonesas muito farsescas e não gostei de ficar ouvindo durante boa parte de Rashomon um plágio quase explícito do Bolero, de Ravel. A cópia, portanto, é melhor, inclusive porque transporta o enredo para o faroeste. Um drama, com alguns tons de comédia até, mas muito inteligente e bastante instigante  apresentando diversas versões para um mesmo fato (perante um magistrado e um tribunal ao ar livre) e com isso desafiando o espectador a pensar: alguma das histórias é verdadeira? Qual é, então, a verdadeira narrativa? Por que cada um teria mentido ao contar sua história na frente do juiz? Todo mundo mente para se favorecer? Entre outras questões…O elenco é ótimo: de cabelo preto, como o bandido Carrasco, Paul Newman – com quem o diretor Martin Ritt já havia trabalhado em vários filmes, entre eles Paris vive à noite e O mercador de almas– , o marido, Laurence Harvey; a esposa, Claire Bloom – que no teatro havia desempenhado o mesmo papel -, o padre, William Shatner – antes de interpretar o Capitão Kirk, de Jornada nas Estrelas -, além de Howard da Silva e do excelente Edward G. Robinson, interpretando um personagem encarregado de colocar a pulga atrás da orelha, os pingos nos is, provocar dúvidas, reações e filosofar sobre a natureza humana. Um raro faroeste para fazer pensar. 8,8