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RASHOMON

Um filme japonês de 1950 e que ficou na história porque elevou em muito o cinema nipônico e deu impulso definitivo à obra do diretor Akira Kurosawa (Kagemusha, Dersu Uzala, Os sete samurais). Foi em parte baseado em um conto de 1922 intitulado No matagal, que narra no Japão do século XI os acontecimentos envolvendo um samurai, sua esposa e um bandido, sob a ótica de quatro narradores diferentes: um lenhador, um monge, o bandido e o marido (por meio de uma médium). O fato de não se saber qual das narrativas é a verdadeira (ou se alguma delas o é) desafia a sagacidade e o intelecto do espectador. Mas o filme não parece dar uma resposta definitiva a esse fato, que até mesmo parece ser irrelevante diante da proposta, que seria a de provocar uma reflexão (pessimista no caso) sobre a natureza humana, ou no mínimo sobre a impossibilidade de se extrair a verdade quando existem várias versões sobre o mesmo fato ou conflitos no modo de ver as coisas. Ao que parece, em mais de uma língua, o termo “rashomon” se tornou aplicável em situações nas quais a veracidade de um fato é de difícil verificação, em razão justamente do conflito nos depoimentos das testemunhas. Esse aspecto do filme é efetivamente o seu grande ponto de atração e de originalidade e o texto inclusive indaga se os homens são todos mentirosos, se não se pode confiar em ninguém, se não existe um fio de esperança para a humanidade…nas imagens finais do filme, porém, essa esperança parece se descortinar, de forma clara, perfeita e iluminada. E a propósito dessa mesma imagem também podem ocorrer perguntas sobre sua relação com os fatos narrados envolvendo os dois homens e a mulher: esse pode ser ou não outro ponto interessante, havendo a possibilidade, entretanto, que na verdade seja algo meramente acidental. A história inicia e termina no chamado Portal de Rashomon e se passa em ambientes limitados, de modo que poderia até ser contada sob a forma de uma peça teatral, pela qual certamente faria o mesmo sucesso. O filme venceu o Festival de Veneza em 1951 (ganhando o Leão de Ouro) – dizem que inscrito sem ser pedida a autorização de Kurosawa -, ganhou em 1952 o Oscar e também o Globo de Ouro como Melhor filme estrangeiro, entre muitos outros prêmios. É estrelado pelo famoso ator japonês Toshiro Mifune. O lado negativo pode ser creditado a algumas fracas coreografias de lutas e à própria conduta dos personagens, meio espalhafatosa, meio pastelão, beirando a encenação, por ser dramática demais, o que parece ser uma característica de alguns filmes japoneses. De resto, um filme esteticamente bonito e bastante interessante em seu intrincado enredo, razão por que os americanos o refilmaram em 1964 (acrescentando pequenas variantes), com um belíssimo elenco, estrelado por Paul Newman (moreno e fazendo o papel de bandido !), Laurence Harvey, Claire Bloom, Edward G. Robinson e William Shatner. 8,8