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AS PONTES DE MADISON

Este filme de 1995 certamente está entre os melhores de todos os tempos do gênero drama romântico. A direção de Clint Eastwood é extraordinária, imprimindo todos os contornos de delicadeza que a história exige, robustecida por um roteiro riquíssimo e que a maior parte do tempo retrata apenas o envolvimento de dois personagens. Porém com uma profundidade não usual: os diálogos são adultos, maravilhosos e perfeitos, inclusive porque espelham as faces verdadeiras dos seres humanos: falíveis, passionais, carentes, mendigos do amor e muitas vezes escravos da inevitável dor. Clint, então com 65 anos (a forma atlética não aparentava) está perfeito no papel do fotógrafo da revista National Geografic. Mas Meryl Streep está soberba. Sem a menor dúvida, considerando toda a carreira e os papéis diferentes em que brilhou, é a maior atriz de toda a história do cinema. Ambos dão um show. E Clint acumulando ainda o papel de diretor. Mas quando dirigiu este filme ele já havia dirigido Josey Wales, Os imperdoáveis, O cavaleiro solitário, O mundo perfeito etc. e viria ainda a dirigir, entre outros, J. Edgar, Além da vida, Sniper americano, A menina de ouro…portanto já tendo demonstrado e reprisado ser um expoente na categoria de cineasta, além de um excelente ator, notabilizado pelos westerns de Sérgio Leoni e seguindo no gênero policial, além experiências as mais diversas, inclusive como cineasta de grande talento e competência. O filme não tem propriamente uma trilha sonora. Nesse quesito, aliás, é até carente, porque a discreta trilha nada tem de especial. Mas isso acaba sendo um triunfo, para destacar a delicadeza e também a intensidade dramática de certas cenas, cada instante com o exato alcance desejado e necessário. E são, por outro lado, ótimas as músicas que fazem parte da história, geralmente blues e jazz, preferência inclusive pessoal do diretor. Tudo é muito bem feito (a ponto de alguns se sentirem desconfortáveis com o desenrolar da trama) e sobretudo natural. No final das contas, reprisamos o conceito de que somos a soma de nossas escolhas e a história, afinal, é sobre isso mesmo. Nossos padrões e questionamentos sobre o que nos aprisiona, diante de algo que subitamente quebra esses padrões…Uma frase do fotógrafo: “Os velhos sonhos eram bons sonhos. Não se realizaram, mas foi bom tê-los”. Os personagens são cativantes, a química do casal é perfeita e os vários conceitos que nos impressionam são e na verdade devem ser recebidos como tônica da própria vida. O final do filme deixa um efeito devastador e duradouro no espectador, fruto também da sinceridade/realidade/integridade do roteiro e da interpretação do casal. Importante também o papel dos filhos dentro do contexto todo: não só as reações (diferentes em cada um), mas as atitudes após o choque com a realidade. Não há também como esquecer da cena da maçaneta…quem vir, saberá…Em suma, um filme inesquecível, de grande beleza poética e que ocupa lugar de relevo na história do cinema sensível.  10,0