AS OITO MONTANHAS

Um belo e delicado filme italiano (e falado em italiano, co-produção Franco-Belga) de 2022, que tem como tema a amizade, a própria vida, suas buscas e desencontros e, circunscrita à temática, a integração do ser humano com a natureza, o que, aliás, proporciona cenas com visual magnífico dos cenários das altas e geladas montanhas alpinas. O filme mostra a transformação de meninos em homens e sua vinculação principalmente com os pais, no difícil caminho da independência e com no que se torna indissociável e muitas vezes tóxico. A intempérie aqui ocorre externa e internamente. É um filme que leva à reflexão sobre o sentido das coisas e do mundo, no que se refere ao papel de cada um e dos caminhos que cumpre seguir (ou tentar), em busca da felicidade própria e não da que foi escrita, mas latentes as cicatrizes com suas marcas permanentes. A narrativa é lenta, mas esse fato é totalmente compatível – e até necessário – com as mensagens que o filme pretende passar, com roteiro baseado no romance homônimo de Paolo Cognetti. A direção é segura e competente do casal belga Charlotte Vandermeersch e Felix van Groeningen e os protagonistas, igualmente ótimos, são Luca Marinelli (Pietro) e Alessandro Borghi (Bruno). O filme foi ganhador do Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2022 e seu contexto permite que se extraia dele, como elemento muito mais trágico do que lírico, a feliz expressão observada (ou reprisada) com muita propriedade por José Geraldo Couto em seu blog: “Como já disse alguém, o único paraíso que existe é o paraíso perdido”. 8,8