SONHOS DE TREM (TRAIN DREAMS – 2025)

Este é um filme de grande beleza, inclusive sob o ponto de vista filosófico-existencial. Seus méritos começam com um ótimo e só aparentemente comum roteiro, baseado em romance do escritor alemão Denis Johnson (de 2011). E prosseguem com a bela fotografia (sem luz elétrica), a interessante trilha sonora (linhas melódicas inacabadas, exceto no final do filme, compondo momentos de reflexão e algum suspense), a segura e competente direção de Clint Bentley (Sing Sing) e a belíssima performance do australiano Joel Edgerton (Bright, Guerreiro, Operação Red Sparrow), também co-produtor. Igualmente fazem parte da jornada de Robert Garnier (personagem de Edgerton) a personagem interpretada pela britânica Felicity Jones (Rogue One, O brutalista) e o vivido pelo grande William H. Macy (Fargo, Magnólia). O filme se passa no início do século 20, no noroeste dos EUA, onde as ferrovias estão em expansão, assim como é realidade o trabalho árduo e em condições precárias dos lenhadores/cortadores de madeira/operários ferroviários, a favor do progresso e em face da rápida industrialização e do acelerado desenvolvimento tecnológico (já se vislumbra o trabalho incipiente com moto-serras). Nesse contexto, os dramas acontecem, muitos fazendo valer o cru (el) ditado de que “viver não é para amadores”. E as perdas levam às transformações, às adaptações necessárias, sabendo-se que nem sempre os sonhos se tornam realidade, mas que certamente as conexões, mesmo perturbadoras, seguem indiferentes ao sentido que cada um pretende dar à sua vida e que nem sempre é alcançado. Na verdade, a mensagem do filme parece encontrar sua definição no diálogo travado entre Grainier e Claire, uma agente florestal interpretada por Kerry Condon (Os Banshees de Inisherin): nesse diálogo temos a síntese de tudo e que inclusive explica tanto a frase dita por Gladys (personagem de Felicity Jones) logo após conhecer Grainier, quanto o sentimento do protagonista na maravilhosa cena final. A narração em off é feita pelo ator americano Bill Patton. Um filme bem acima da média, lançamento Netflix. 9,1

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