O PROSCRITO (THE OUTLAW)

Este filme de 1943 provavelmente não estaria aqui se analisados estritamente os seus requisitos técnicos e cinematográficos, considerado o gênero western. O espectador de bom gosto ficará diversas vezes desconcertado ou incomodado com o desenvolvimento manco da história ou a construção imatura de um ou outro personagem ou, ainda, com a própria interpretação de parte do elenco, em uma ou outra cena. É, na verdade, apesar da bela fotografia, uma mistura de personagens bem e mal construídos, dentro um roteiro com partes ótimas e partes medíocres ou bisonhas. Em certos trechos do filme, inclusive na sua parte final, a estranheza dos fatos é tanta, que nosso curiosidade fica acesa, por ficarmos sem a mínima ideia do que pode acontecer, o que, de repente, não deixa de ser uma virtude, embora meio às avessas. O que ocorre, porém, é que se trata de um filme que ganhou extrema notoriedade na história do cinema e basicamente por quatro fatos marcantes: primeiro, a produção e a direção foram do excêntrico milionário americano Howard Hughes (de interesses diversificados, inclusive fabricação de aviões) – ocultado do público que na verdade o filme começou a ser dirigido pelo outro Howard, o Hawks, que entretanto desistiu após diversos atritos com Hughes, pelas intervenções que este fazia; segundo, o filme foi violentamente censurado em 1943 após ter sido liberado (foi produzido em 1941), para novamente ser liberado em 1946, tendo havido supressão de mais de 30 minutos das cenas; terceiro: o motivo da censura foram os “provocativos” decotes da atriz Jane Russel, que aos 20 anos estreava no cinema (descoberta como vendedora de loja por Hughes) e viria a ser mais tarde símbolo sexual (atuou com Marilyn Monroe em Os homens preferem as loiras) – pelo que consta, ela usava enchimento no sutiã; e o quarto e último fato que tornou este filme histórico foi a acirrada e memorável campanha feita por Hughes, uma das maiores e mais intensas do cinema, em torno do filme e da sensualidade de Russel, causando um verdadeiro furor popular.  O decote citado e a censura inflexível soam hoje como piada, até porque nenhuma relação tiveram as objeções com a história, que na verdade enfoca na relação entre três grandes personagens do chamado Velho Oeste: o afamado xerife Pat Garret, muito bem interpretado pelo premiadíssimo Thomas Mitchell, o ás do pôquer e do gatilho Doc Hollyday, interpretado por Walter Huston, pai do famoso diretor John Huston (com toques de canastrice) e o pistoleiro e fora-da-lei Billy the Kid (interpretado de modo estranho e instável pelo estreante Jack Buetel, que depois de mais quatro filmes desistiu da carreira). Aliás, é Kid que dá título ao filme, neste caso o original correspondendo exatamente ao significado do nome em português, uma vez que “proscrito” significa exatamente “out low”, ou seja, alguém que vive ou foi colocado à margem da lei, da sociedade, quem foi banido. Sobre Billy the Kid, é ainda interessante destacar que se construiu uma lenda de mortes atribuídas a ele, pela rapidez do gatilho, mas que ele morreu precocemente, quando tinha apenas 21 anos de idade: e a história atribui sua morte a um tiro de Pat Garret, o que o final do filme (na inscrição da lápide, de modo inteligente e criativo, diga-se) deixa em suspense. Interessante também que a trilha sonora em muitos momentos, inclusive na última cena, evoca temas familiares de Charles Chaplin, não se tendo certeza sobre se isso foi ou não intencionalmente uma homenagem ao genial cineasta. Mas a verdade pode ser a seguinte, todos esses fatos à parte: se esse filme não for tão levado a sério e sim degustado sob a luz de seus tons de comédia (que acorrem em vários momentos e a trilha sonora não deixa dúvidas disso, pontificando alguns desses instantes), será bem mais fácil digerir suas falhas e encontrar nele a diversão que foi provavelmente desde o início proposta. O que não é muito, mas ameniza o que poderia ter sido. 7,8

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