AMOR SEM PECADO (PERFECT MOTHERS)

Este filme de 2013 pode servir de bom teste para avaliar preconceitos ou mesmo o grau de moralismo ou puritanismo de cada um, porque é polêmico e provocante, tratando de temas tabus. Assim, aconselha-se aos mais conservadores manterem distância segura, sendo certo, de qualquer forma, de se tratar de uma história para adultos. A vantagem – e que se sente ao ver o filme – é que os fatos são examinados e tratados sob a ótica de uma mulher. A sensibilidade feminina da luxemburguesa Anne Fountaine (Agnus dei, Coco antes da Chanel, Gemma Bovery) é que atribui os tons certos na direção do filme ao adaptar o texto do livro “Adore” de Doris Lessing, atribuindo ou confirmando a visão ousada e sedutora dos fatos, porém sem nunca perder a mão firme ou a classe (apesar de uma ou outra cena tórrida). Com um título original instigante, o filme se passa menos na Austrália e mais no sul da França, onde por sinal foram gravadas as imagens paradisíacas que permeiam de forma deslumbrante todo o enredo. O roteiro é forte, bem construído e desenvolvido, provocando reflexões sobre relações, amizade, desejo e principalmente sobre os limites da liberdade e da regência do destino por parte de cada um, além do importante tema da passagem do tempo e dos seus efeitos. Com ótima trilha sonora e belíssima cinematografia, temos aqui brilhantes interpretações de duas maravilhosas atrizes, que possuem tanto uma perfeita sintonia/afinidade, quanto dão credibilidade e dignidade às personagens – difíceis – que interpretam; alguém disse que ambas inclusive “redefinem a beleza da meia-idade”, o que significa muito dentro do contexto do filme: são elas a australiana Naomi Watts (Cidade dos sonhos, 21 gramas, Diana, O impossível) e a americana Robin Wright (Forrest Gump, A princesa prometida, Um lugar – a série de TV House of cards). De irregular, apenas o desempenho pálido e preguiçoso de Ben Mendelsohn. Um filme que evoca, quem sabe,  tragédias gregas ou dramas Shakesperianos e que culmina em um final inesperado, porém inteligente, até mesmo na medida em que deixa no ar eloquentes reticências. 9,0