A SOMBRA DE CARAVAGGIO (L´OMBRA DI CARAVAGGIO)

Interessante concepção dos séculos 16, 17, época dos ambientes e das ideias obscuras, do fanatismo e poder religiosos, da Inquisição e de Giordano Bruno, por ela condenado à fogueira em 1600 (frade dominicano, filósofo, escritor, teólogo, sendo herege e blasfemo na visão da Igreja). E do pintor Caravaggio – muitíssimo bem interpretado por Riccardo Scamarcio -, nascido em Milão em meados do século 16 e batizado como Michelângelo Merisi. Um trabalho difícil para o ator, pelo personagem profano, espírito livre e contestador, gênio e louco, excêntrico e iconoclasta, odiado (e amado) por suas obras de afronta à Igreja, adotando em suas pinturas, como modelos, prostitutas, mendigos e ícones sagrados, sendo por esse motivo permanentemente alvo de perseguição e ironicamente de admiração pela sua genialidade artística, inclusive pelos próprios membros da Igreja e da Realeza. O filme traz uma idade média escura e obscura – com ótima direção de arte e figurinos – e o título do filme se refere a quem o Papa encarregou de investigar o artista e apresentar um “dossiê” para análise do perdão papal (que Caravaggio, fugido de uma condenação, buscava). Trilha sonora também adequada, ótima direção de Michele Plácido, além de um elenco excelente, do qual fazem parte Louis Garrel e a diva Isabelle Huppert (embora em papel limitado). “Os diferentes devem ser neutralizados em nome da estabilidade”. Um filme que não é para todos os gostos, em razão de sua temática e cenas de violência, mas que certamente oferece intensidade e força, sendo visceral no texto e no retrato de uma época de total absolutismo clerical. Produzido em 2022, peca apenas por alguns momentos que poderiam ser menos longos outros que soam como desnecessários, mas é um pecado menor diante do contexto todo. Participou em 2023 do 18º Festival do Cinema Italiano no Brasil. 8,8