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E O VENTO LEVOU

Certamente um dos filmes mais aclamados da história do cinema. E não é para menos. Embora não seja o motivo principal de seu sucesso, os fatos que precederam o lançamento do filme merecem uma atenção e até um estudo especial e quem assistir ao making of de mais de duas horas entenderá todos os acontecimentos que cercaram desde a pré-produção, incluindo desde a escolha do elenco até a realização de várias e importantes cenas e do filme todo, enfim, com fatos felizes, entre outros sombrios e com aroma de tragédia, que muitas vezes até ameaçaram a própria existência do filme. A escolha da atriz para o papel principal, por exemplo, é um capítulo à parte, bem como são significativos vários detalhes envolvendo todos os percalços da produção em si, o que também eleva e enaltece a participação, em todas as etapas, do fantástico produtor David Selznik (cérebro e coração desta feliz adaptação da famosa obra literária de Margaret Mitchell). O motivo principal do sucesso são os diversos fatores agregados e que fazem com que esse filme seja visto ao longo do tempo, por diversas vezes, e surpreendentemente mantenha sua atração, sua beleza estética e histórica, seu valor cinematográfico, em outras palavras, seu inesgotável encantamento! É realmente impressionante que cada visão do filme nos proporcione as mesmas emoções e que fiquemos, a cada vez, arrebatados pelos personagens principais, pela história, pelas imagens e pelo tema musical, que é simplesmente espetacular e inesquecível. Mas a trama, de aventura, romance e drama, é também intensa e envolve a guerra civil americana, o comportamento dos habitantes do Sul na pré-guerra, a guerra em si e os efeitos e mudanças que ela provocou nas cidades e nas pessoas, principalmente a miséria e a fome…além da superação, do renascimento, do resgate dos valores perdidos, o surgimento ou a confirmação dos espíritos fortes! Nesse sentido, a personagem de Vivian Leigh, a icônica Scarlett O´Hara, talvez possa ser considerada a mais poderosa que já houve. Ressalte-se, ainda, que conhecer sobre a Guerra da Secessão – o outro nome da guerra Norte x Sul dos EUA, que durou de 1861 a 1865 – certamente ajudará a compreender e degustar melhor o filme, embora não seja necessariamente um pressuposto para se envolver e se emocionar com a história de várias vidas que se entrelaçam e o destino de cada uma dentro de um contexto histórico. A paixão poucas vezes no cinema envolveu tantos sentimentos mesclados e foi cercada de intensidade tão eloquente. Este filme concorreu a 13 Oscars e ganhou 8: Filme, Diretor (Victor Fleming, que pegou o filme já iniciado, saiu em dado momento e depois retomou a direção), Atriz (Vivien Leigh), Atriz coadjuvante (Hattie McDaniel, a Mammy, a primeira negra a ganhar o Oscar), Roteiro, Edição, Direção de arte e Fotografia (a cores). O filme perdeu nas categorias de Trilha sonora, Efeitos especiais e Ator, sendo fato que teve uma segunda indicada na categoria de Atriz coadjuvante: Olivia de Havilland. A não-premiação de Clark Gable como melhor ator do Oscar de 1940 foi uma das maiores heresias da história do cinema (certamente por questões eminentemente políticas), ainda mais tendo ele perdido o prêmio para Robert Donat, um ator que pouco fez além de Adeus Mr Chips e que nesse filme tem um desempenho muito bom, mas absolutamente sem qualquer brilho, ao contrário de Clark. Tudo isso ainda considerando que concorriam com Gable nesse Oscar simplesmente Laurence Olivier (O morro dos ventos uivantes) e James Stewart (A mulher faz o homem). Mesmo diante dessa injustiça, que foi a não-premiação de Gable (que 5 anos antes havia ganho o Oscar de ator por Aconteceu naquela noite), o personagem Rhet Butler se tornou, junto com o de Scarlett, imortal. Além da trilha sonora lindíssima e marcante, o filme traz imagens notáveis – algumas inesquecíveis – e que são além de impactantes, emolduradas por cores de uma beleza e singularidade ímpar, havendo ainda no roteiro cenas eternas e frases que ficaram para a histórica do cinema, como a célebre de Scarlatt O´Hara: “nunca mais passarei fome” (embora não fique tão distante a proferida por Buttler: “francamente, querida, estou pouco me importando”). Diante dessa magnitude toda, não há como se atribuir conceito menor do que o superlativo ao filme, sem dúvida uma das obras-primas da sétima arte. 10,0.