PECADOS ANTIGOS, LONGAS SOMBRAS (LA ISLA MINIMA)
Cinema espanhol de alta qualidade (thriller policial). Um filme lento, mas forte e denso, que se passa em 1980 na região da foz do rio Guadalquivir, retratando uma época em que o Franquismo já havia ficado para trás (há cinco anos), mas a Espanha ainda estava se adaptando à democracia, que chegava de modo muito mais lento no interior, ainda bastante conservador quanto a mudanças – a política assombra o foco central do roteiro, em vários momentos do filme, principalmente em seu fecho. Dois detetives de forte temperamento são enviados de Madri para investigar o desaparecimento de duas meninas e a partir daí sua difícil integração com os usos e costumes vai propiciando ótimos momentos de drama, suspense e muitas sutilezas. O filme é muitíssimo bem conduzido e o espectador acompanha tenso, sem saber onde os fatos vão desaguar. O pântano traz surpresas e entre os dois personagens também paira um clima tenso e suspeito quanto ao passado de um deles. Não há banalidade, não há muita coisa declarada expressamente e as investigações mergulham muitas vezes nas sombras, inclusive do passado. A configuração geográfica dos pântanos e da vegetação e ambiente em geral é absolutamente original (em cores e formas) e nas primeiras imagens – aéreas – o filme já nos impacta e mostra que veremos algo fora do convencional. Segundo a internet, são imagens digitalizadas dos vários pântanos de Andaluzia e das salinas de San Fernando (em Cádiz), conforme fotografados por Hector Garrido. Muitos quadros do filme também se basearam no trabalho fotográfico de Atin Aya. A direção é excelente, de Alberto Rodriguez, e todo o elenco está impecável. O filme ganhou diversos Goya no início de 2015 (o Oscar do cinema espanhol): melhor filme, diretor, roteiro original, ator, atriz revelação, montagem, direção de arte, fotografia, figurino e música original. 9,0