UN SECRET (UM SEGREDO EM FAMÍLIA)
Os franceses têm um jeito especial de contar histórias da época da Segunda Guerra Mais ainda quando tratam da perseguição aos judeus. Afinal, o país foi por um bom tempo “ocupado” pelos nazistas. A “ocupação”, porém, não é o principal foco da narrativa e sim seu suporte dramático, embora seja um fato que acaba dando sentido ao título do filme. Trata-se de um drama envolvendo pessoas e relações, com sutilezas, reticências e silêncios habilmente colocados em cenas importantes, de modo que as emoções são percebidas e surgem mais das frestas, dos olhares e dos pequenos gestos, do que são ditas…O destino vai simplesmente se formando, com calma e naturalidade…há sutileza até nas cenas mais graves, que mesmo assim se tornam impactantes. Um filme de inegável qualidade, em todos os seus elementos, notadamente a direção de Claude Miller e a interpretação de todo o elenco, com um brilho especial para a fabulosa (além de elegantemente bela) atriz Cécile de France (Albergue espanhol, Alta tensão, En equilibre…). Mas também atuam Patrick Bruel, Ludivine Sagnier, Julie Depardieu e Mathieu Amalric, entre outros. São mostrados também os fatos anteriores e os posteriores à guerra, sendo estes últimos em preto e branco, talvez como uma maneira de ressaltar a afetação do passado ou sua extrema relevância no desdobramento dos fatos e de sua conclusão. Por sinal, o começo do filme, magnífico, com a mãe levando o filho pela mão e, após desfilar em meio aos demais frequentadores do grande clube, subindo devagar as escadas para chegar ao alto do trampolim e desferir um belo e atlético salto. Há muita tragédia contada no filme, mas também lições de superação, não sendo coincidência que o garoto tímido e rejeitado pelo pai, François, tenha o mesmo sobrenome e o mesmo destino profissional do autor do livro no qual o filme se baseou: Grimberg. Esta obra de 2008 teve 11 indicações para o Cesar (o Oscar francês), ganhando apenas o de atriz coadjuvante (Julie Depardieu). Os franceses são desapegados de tecnologia cinematográfica e se especializaram nos enredos carregados de humanidade, embora também não apreciam exaltá-los de forma manipuladora. Esse é um dos encantos do cinema francês. Que também faz com que no final do filme estejamos profundamente emocionados pela pungente história que acabamos de ver e que, embora apenas tangencie os verdadeiros dramas da guerra, deixa clara a realidade que existiu e que até hoje constitui uma das maiores vergonhas da humanidade. É daqueles filmes que nos deixam impregnados de emoção muito tempo depois que acabam. 9,0