UMA BATALHA APÓS A OUTRA (ONE BATTLE AFTER ANOTHER – 2025)
Paul Thomas Anderson é considerado um dos maiores diretores da história do cinema contemporâneo. E não é à toa, com um currículo onde despontam obras como “Sangue negro”, “O mestre”, “Trama fantasma” e “Magnólia”. Aqui o cineasta apresenta mais uma vez um trabalho original e carregado de vigor cinematográfico. Com um belo roteiro que adaptou livremente Vineland (livro escrito em 1990 pelo conceituado americano Thomas Pynchon), a direção flui de forma enérgica, destacando seu caráter dramático, tenso, misterioso e por vezes cômico, contando com uma fascinante (e por vezes delirante) trilha sonora do britânico Jonny Greenwood, autor de diversas trilhas em filmes famosos, como “Trama fantasma”, “Sangue negro” e “O poder do cão”. Importante ressaltar, que por não ser um filme convencional, tem o potencial de desagradar muita gente, tanto pelos temas, quanto pela forma da narrativa e até mesmo em virtude de sua longa duração (2h 42min). Entretanto é uma obra de respeito, porque a todo momento se sente a qualidade, a criatividade, a inteligência e o talento por trás de todo o trabalho – e não será surpresa concorrer a inúmeros Oscar em 2026. E esse talento também fica por conta do estupendo elenco, com um personagem “horrivelmente” memorável de Sean Penn (o seu coronel Steven Lockjaw é grotesco e caricatural, mas de admirável composição), uma atuação maior e magnética de Leonardo Di Caprio (como Bob Ferguson), a performance sempre carismática de Benício Del Toro (Sérgio) e um desempenho feminino notável, principalmente de Regina Hall (Deandra), Chase Infiniti (Willa) e Teyana Taylor (Perfídia): a propósito, em determinado ponto do filme, quase ao final, não há como não se divertir com a cena patética embalada pelo bolero “Perfídia”. Com muitos momentos explosivos e admirável edição e direção de elenco, o filme é uma sátira ao autoritarismo militar, um painel do caos atual – sócio-político – dos Estados Unidos, enaltecendo as relações familiares e suas crises e medos (“Qualquer um que tenha filhos sabe que o instante em que eles nascem é o último em que você não vai sentir medo”) e repleto de fatos e cenas que se entrelaçam e se sucedem de forma imprevisível e com muita adrenalina, o que dá inclusive perfeito sentido ao título, que foi mantido sem alterações no português. Nesse passo, conforme observa na revista Rolling Stone o crítico Angelo Cordeiro, “a sequência final em uma rodovia sinuosa como uma montanha-russa é de um deleite visual e sonoro quase catártico”. A rodovia referida é realmente um assombro visual e de engenharia, sendo cenas desde já memoráveis para a história do cinema, inclusive pelo seu significado metafórico, como bem observou a crítica Isabela Boscov, a qual inclusive identificou o local como sendo a Rota 78, trecho entre San Diego (Califórnia, EUA) e Tijuana (Baixa Califórnia, México). 9,1
