THE GERMAN LESSON (DEUTSCHSTUNDE)
Esta produção é de 2019 e baseada em um romance famoso, envolvendo fatos pós segunda guerra, porém ainda sob o regime nazista. Traduzido para o português, o título “aula de alemão” e na verdade tudo gira em torno desse fato, no plano real e também metafórico. Aqui se trata da doutrina alemã, sendo imposta a todos sem restrição, a partir da educação dos jovens (embora não assimilada por alguns). E a partir da “educação” de Siggi e de seus apontamentos (memórias), são narrados os fatos envolvendo sua família, amigos e vizinhos, com destaque para seu “padrinho” e amigo da família, que tem na pintura (de quadros) sua atividade principal e sua paixão maior. Qualquer tipo de opressão é aviltante à dignidade humana. Mas a opressão da guerra é talvez a pior. Porque causa não apenas mal físico, mas grandes danos psicológicos. E aqui, tanto a doutrinação, quanto a opressão, são personificados na figura do pai, que incorpora a “alegria do dever” (das aulas) e, sendo autoridade nomeada, pratica todos os atos inerentes ao cumprimento pleno desses deveres, cumprindo fielmente todas as tarefas que lhe são confiadas pelos superiores, com altíssimo e radical senso de dever, mesmo podendo causar dor nas pessoas queridas: o dever sempre fala mais alto. O ator que faz o papel do pai, aliás, é maravilhoso porque consegue gerar muita raiva no espectador: raiva pela indignação, raiva diante da constatação da impotência dos oprimidos, diante de um sistema irracional e imposto pelo poder. Ele é o próprio regime em ação e sua insensibilidade na obediência cega o torna um dos mais odiosos personagens do cinema, simplesmente porque é real, de carne e osso e não uma figura inventada ou mitológica. Esse é o fato mais chocante e que distingue a interpretação do ator Ulrich Noethen. Assim, parece não haver defesa e a insensatez se revela em várias etapas da história. Vemos a mãe submissa diante do marido e pai autoritário e até com certa aflição acompanhamos o filho mais novo, tentando sobreviver e manter-se alheio ao mal, embora seu bom coração não recuse praticar as obrigações de filho. Fato vital é a publicação de uma lei que proíbe pintar quadros e obriga as autoridades a confiscá-los. A partir de então vão se acentuar os conflitos envolvendo inclusive família e amigos: a cena dos quadros queimando lado a lado nos cavaletes e na praia é uma das mais simbólicas do filme. Um momento dolorido, próximo à parte final, inaugura a porção mais dramática do filme, quando as rupturas são iminentes. A partir dele, o filme realça seus dramas e cria grandes momentos de tensão e emoção. Um belo trabalho de direção, edição, trilha, fotografia, elenco excelente, em mais um filme trazendo uma reflexão sobre a guerra, mas principalmente sobre valores e sobre a vã esperança do ser humano, de mudar alguns deles e que são pétreos. 8,5