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QUANDO EXPLODE A VINGANÇA (A FISTFULL OF DYNAMITE – GIU´LA TESTA)

Mais um filme de Sérgio Leone, este de 1971 e com 2h 30min de duração. Necessária, aliás, para comportar o estilo do diretor (closes, câmeras lentas, cenas longas…) e para tudo o que acontece, o cartaz dando um bom painel da ação. O título em inglês faz uma ligação com o primeiro western da trilogia dos dólares, A fisffull dollars e ao mencionar a dinamite se vincula diretamente com o interessante (e moderno) personagem de James Coburn, ator que alguns anos antes havia feito muito sucesso no cinema com o personagem Flint (uma espécie meio canastrã de 007): aqui ele é John, um revolucionário irlandês e especialista em explosivos. Pilota inclusive uma moto e com isso o filme contempla uma época em que o Velho Oeste já estava se transformando e civilizando aos poucos (embora o centro da ação ocorra no México). O titulo em italiano também faz alusão a esse mesmo personagem e a uma frase que repete ao longo do filme e que significa “abaixe a cabeça!”. O outro protagonista é Juan, desempenhado muitíssimo bem pelo ator Rod Steiger, que, ainda mais sendo americano, incorpora muitíssimo bem o papel do bandido mexicano. O filme se passa na época da revolução mexicana (anos seguintes a 1910) e inclusive cita o nome dos heróis revolucionários mais famosos da história, Pancho Villa e Emiliano Zapata. Sem perder as características principais de seu estilo, Leone inova aqui com a temática político-social, rumando do interior deserto para a cidade “grande” e apresentando inclusive um olhar crítico sobre o movimento revolucionário. Em razão desse tema, há bastante violência por parte da milícia oficial e dos revolucionários, sendo mostradas execuções coletivas etc. Um filme intenso, criativo, com doses de humor e efetivamente bem superior aos três westerns que ficaram mais famosos, com um diretor já bastante maduro, também fruto da obra-prima que havia feito três anos antes (Era uma vez no Oeste). Como de praxe, a trilha sonora foi deixada a cargo de Ennio Morricone, que realiza um dos seus trabalhos mais férteis, com destaque para a canção que dá título ao filme, apresentada sob diversas roupagens e que evoca as memórias de John. Essa música acabou ficando muito conhecida, inclusive pelo nome de “A Revolução”. O roteiro acaba surpreendendo também a partir de um fato inesperado que ocorre com o personagem de Rod Steiger e em razão dele há muitas cenas ótimas, uma delas definindo a ideologia do personagem e a própria tônica revolucionária: é quando Juan sente algo estranho e meio pastoso cair sobre a sua cabeça e constata tratar-se de cocô de passarinho; de imediato olha para cima e diz: “para os ricos você canta”. Um Leone efetivamente inspirado e que encerraria sua carreira 13 anos depois com o inesquecível Era uma vez na América, que comentam alguns seria o encerramento da nova trilogia, composta primeiro por Era uma vez no Oeste e depois por este filme (fato, porém, bastante polemizado). 8,9