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PARASITA

Uma comédia coreana que concorre com bastante força no próximo Globo de Ouro (5/1/20), tanto para o prêmio de Melhor Roteiro, quanto de Melhor Filme Estrangeiro, inclusive tendo sido o filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes deste ano. Na verdade, o roteirista é o próprio diretor, Bong Joon Ho, já bastante prestigiado no cinema mundial.  De cara já percebemos que a fotografia, produção, edição e direção são ótimos, bem como todos os integrantes do elenco, tratando-se de um filme de alta qualidade técnica. A trilha sonora acompanha com harmonia os demais elementos. Com o desenrolar do filme constatamos, também prazerosamente, que o roteiro igualmente é muito bom e que nos mantém interessados do início ao fim do filme, levando-nos a algumas interessantes surpresas e a boas risadas, com o humor fino apresentado (muitas vezes humor negro), além de apresentar diversas alternâncias. Em terreno mais do que adequado, pois o filme é na verdade uma crítica social e aos costumes, mostrando a desigualdade de classes e os métodos de sobrevivência dos que nada tem, contrastando com o modo de vida dos que tudo tem. Uma obra original e que apresenta momentos singulares, sendo alguns deles até discutíveis dentro de uma coerência plena, mas na verdade o diretor tem fluindo no sangue a visão anárquica de alguns dos grandes inovadores do cinema -em uma ou outra cena, sente-se a influência de Tarantino, por exemplo-, de modo que há fatores às vezes mais importantes do que a linha segura da lógica plena. De todo modo, trata-se de uma obra que confirma a excelência do cinema coreano, ácida, original, divertida e reflexiva (a cena da inundação é contundente e de grande significado, embora tenha merecido algumas críticas negativas). A política também está presente, com referências naturalmente sobre a Coreia do Norte, especificamente ao ser comparado o acionamento de uma bomba nuclear com o do botão de “enviar” de um celular contendo um vídeo comprometedor. A par dos festejos do cínico proletariado, vemos o desprezo sutil dos ricos pelo cheiro da pobreza, entre outras abordagens, que se tornam eloquentes e deixam as reticências na apoteótica festa de aniversário. Interessante que antes da metade do filme os fatos se mostram aparentemente resolvidos, não parecendo haver muita coisa pela frente, quando o roteiro, então, nos mostra como estamos enganados, trazendo novas surpresas. O desenlace pode não ter muita lógica para os ocidentais, mas representa total coerência com o pensamento e a filosofia orientais, impregnadas de lirismo e poesia, embora com um toque ou outro de tragédia.  9,0