O ÚLTIMO BEIJO (L`ULTIMO BACIO – 2001)

Este filme consta de pelo menos uma das listas da internet, dos 100 melhores filmes de todos os tempos. Mas figura nessa lista a versão americana, de 2006, “The last kiss”, chamada no Brasil de “Um beijo a mais” e não a original. Ocorre que o filme italiano é muito melhor do que o remake, em praticamente quase tudo (talvez só perca ou empate quanto a determinado ator ou determinada atriz) e quem assistir aos dois filmes constatará isso facilmente. São praticamente os mesmos filmes, porém com duas diferenças bem importantes: o final de cada filme e uma revelação quase ao final, feita pelo protagonista diante da companheira, que na versão americana envolve um fato a mais, capital, omitido no original italiano (e que seria spoiler revelar). De certo modo, encontrar este filme em uma lista de 100 pode ser a princípio uma surpresa. Mas, pensando bem, ele tem méritos suficientes para credenciá-lo, sem levar em conta o subjetivismo dessas listas, nas quais podem perfeitamente figurar filmes que são importantes para certas pessoas, enquanto para outras soam como indiferentes. Esta produção italiana realmente é diferenciada, pois trata de temas abordados exaustivamente em outros filmes, mas o faz de uma maneira muito mais profunda e verdadeira, expondo facetas, sentimentos e situações que geralmente não são explorados, em muito relacionados com o estado de confusão dos jovens a respeito de seu destino no relacionamento amoroso. Porque revelam as hesitações e inquietações dos relacionamentos jovens e temas, mas também abrangem o tédio e a rotina nos relacionamentos mais maduros. Faz uma radiografia do comportamento e da própria natureza do homem e da mulher, das dificuldades de conciliar natureza e propósitos, enfocando o medo da responsabilidade pelo homem, o apego feminino ao ideal de um lar e de ter filhos, o fantasma da rotina assombrando a todos. Um filme franco e que expõe o que geralmente fica represado. Frases do filme: “normalidade é a verdadeira revolução”, “fidelidade é uma utopia?”. O contexto global parece ser o de que se deve seguir sempre o coração, mas sempre dizer a verdade, mesmo que possa doer. De todo modo, finaliza com uma ironia surpreendente, mas que não deixa de ser humana, como tudo o que nos é mostrado. O diretor é Gabriele Muccino (Aqui em casa tudo bem, Sete vidas, À procura da felicidade) e o elenco é ótimo, começando com as maravilhosas Giovanna Mezzogiorno (Vincere, O amor nos tempos do cólera) e Stefania Sandrelli (Em casa tudo bem, A família, A grande beleza, Nós que nos amávamos tanto, O conformista) e apresentando ainda Stefano Accorsi, Pierfrancesco Favino (este em pequena aparição), Martina Stella, Sergio Castellitto e Luigi Diberti, entre outros. De forma inteligente, o roteiro apresenta os fatos e as situações, mas evita os julgamentos, embora envolva totalmente o espectador (com um ritmo célere) e deixe claros alguns pontos, como os efeitos do tempo em relação a um ou outro sexo, por exemplo. Bela obra do cinema italiano, embora o filme americano também tenha grande qualidade, se assistido isoladamente ou por primeiro. 9,0