O PASSAGEIRO (PROFISSÃO REPÓRTER)
Há filmes que ficam famosos por questões de época, de elenco, de diretor, de estilo etc. Este filme é um daqueles que tem uma aura de filme de arte, principalmente porque seu diretor foi Michelângelo Antonioni, famoso cineasta italiano que dirigiu Zabriskie Point entre outros e o aclamado Blow up – Depois daquele beijo. São figuras importantes no mundo do cinema pelos movimentos dos quais participaram, pela época na qual viveram e fizeram filmes e pela marca que deixaram com suas obras, também dependentes do momento. Este filme foi feito em 1975 e tem como protagonista Jack Nicholson, no auge de sua forma física (embora já começando a perder os cabelos). Nesse mesmo ano o ator fez O estranho no ninho, um dos dois ou três filmes no cinema que ganharam os cinco principais Oscar (filme, diretor, roteiro, ator e atriz) e no ano anterior havia feito Chinatown, obra forte e de grande sucesso. Estava no ápice da carreira e anos antes havia feito Ânsia de amar, também um filme conceituado (com Cândice Bergen e Garfunkel). Sua partner aqui é Maria Schneider, que havia atuado há dois anos no polêmico O último tango em Paris, pelo qual passou a ser vestida com trajes de superstar. Mas a atriz é bem fraca dramaticamente, apenas ganhando fama e não indo muito longe com ela. Além disso tudo, o filme foi produzido pelo famoso Carlo Ponti (marido de Sofia Loren) e começa com o fascínio do exótico norte da África (Saara), rumando depois para Londres e Barcelona e contendo algumas temáticas muito atraentes, incluindo tráfico de armas para financiamento de revolução africana e a parte mais importante, que é a existencial, vivida pelo personagem de Jack, um repórter e por isso o título em português (ruim, como sempre). Mas isso tudo tem a ver com fama e não com merecimento. Na verdade, é um filme lento, monótono e desinteressante em sua maior parte, que vaga atrás de algo que não encontra, que nada traz de muito interessante e na verdade é tão vazio quanto alguns de seus personagens, embora possa haver críticos que consigam enxergar algumas coisas tiradas de uma invisível cartola. O interesse reside apenas pelo que traz de imprevisível e que, embora tudo corra meio sem sentido e sem conexões interessantes, gera a expectativa de que algo interessante de fato possa acontecer a qualquer momento. Mas isso não ocorre e a ótima ideia inicial acaba redundando em muito pouco. O que salva o filme é apenas o carismático e talentoso Jack e a já referida expectativa. Além da direção inegavelmente talentosa e da filmagem da última cena. Mas é muito pouco e no final o que se tem é a certeza de que uma reprise certamente não haverá. 7,5