O MAURITANO

Prime Vídeo. O que mais provoca indignação neste filme não são propriamente as cenas, mas os relatos dos quais vamos tomando conhecimento e de se saber que foram todos baseados em fatos reais; além da confirmação do que imaginamos (ou lemos em algum lugar) ter ocorrido – a ainda ocorre? – na prisão de Guantánamo na Ilha de Cuba, onde mais distante da ordem jurídica territorial americana, possíveis grandes criminosos e terroristas são presos e torturados, muitos deles sem qualquer prova consistente e pior: sem nenhum julgamento, até como argumento para mantê-los encarcerados. Apesar de o tema ser por si só chocante, há imagens que nos trazem revolta e consternação, entre outros sentimentos poderosos, notadamente por ser público e notório que após o ataque de 11 de setembro os EUA intensificaram a luta contra o terrorismo e até praticaram medidas radicais dentro de um movimento gigantesco de “caça às bruxas”, dentro do qual muitas injustiças certamente aconteceram. O filme traz alguns momentos intensos e conta a história de Mohamedou Ould Slahi (interpretado por Tahar Rahim, ator de ascendência argelina) de forma satisfatória e com um elenco de peso, integrado, entre outros, por Jodie Foster, Benedict Cumberbatch e Shailene Woodley com a direção do escocês Kevin Macdonald (Mar negro, Whitney, O último rei da Escócia). O fato negativo, contudo, é que com todos os elementos que possui a história e seu inegável conteúdo humano e universal (além do elenco estelar), um diretor menos convencional poderia entregar uma obra muitas vezes maior e de emoções muito mais fortes e harmoniosas. Entretanto, mesmo considerando os lugares-comuns do cinema americano, uma ou outra atuação ou situação inverossímil (cenas romanceadas) e alguns problemas de roteiro e desenvolvimento, o cômputo geral acaba sendo positivo e o resultado vale a pena, principalmente por nos fazer refletir sobre inúmeros temas, entre os quais a história do mundo e das civilizações, a política, as guerras e os conflitos, o governo e a política dos EUA, o terrorismo global e seus males e sobretudo a respeito dos direitos humanos e como são brutalizados e desrespeitados nos mais variados graus e de forma despótica, inclusive por nações ditas civilizadas. Independentemente do que foi exposto acima, o filme, de 2021 e baseado no relato biográfico de “O diário de Guantánamo”, tem merecido, da maior parte do público e crítica, efusivos elogios, inclusive pelo seu caráter pungente de “documentário”. Nesse sentido realmente é merecedor dos aplausos.

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8,3