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O LEITOR

Logo ao início já fica claro que as memórias do personagem masculino (que é advogado e interpretado pelo ótimo Ralph Fiennes) serão essenciais no enredo. Aliás, são retratos importantes da adolescência de um menino, ainda mais nos anos 50 e envolvendo os chamados ritos de passagem. Porém à medida em que o ótimo roteiro adaptado vai nos conduzindo, o desenrolar dos fatos e a época trazem peso e drama aos acontecimentos. E o filme, assim, nos brinda com grandes e intensos momentos de emoção, que vão permear todo o seu ótimo desenvolvimento. As cenas sensuais e bastante despojadas do início dão lugar a outras igualmente pungentes, mas de outra e perturbadora natureza. E será difícil permanecermos insensíveis diante das consequências que virão. Além do maravilhoso roteiro e da bela fotografia, a elevada qualidade deste filme se deve a dois fatores: à competente e sensível direção de Stephen Daldry (As horas, Billy Eliot) e à atuação do elenco, principalmente de Kate Winslet, que entrega uma performance simplesmente sublime e que lhe valeu o Oscar de Melhor atriz no ano seguinte ao do lançamento (2009). O filme também concorreu nas categorias de Melhor filme, Diretor, Roteiro adaptado e Fotografia. E, à parte o brilho fulgurante de Kate, também se destacam Fiennes, David Kross e Bruno Ganz, havendo também uma especial participação da sempre marcante Lena Olin. Um filme poderoso e ao mesmo tempo delicado, ao enfrentar uma temática difícil e que indiretamente nos atinge fortemente com os horrores da guerra, tanto no tema e nos relatos, como em algumas imagens, especialmente as de um campo de concentração, em uma cena específica, longa e dolorosa. Uma obra que fala de nostalgia, de família, da vida, da guerra, de amor (muito !) e de culpa, mas sem cair nos estereótipos costumeiros. O maniqueísmo aqui torna-se algo a ser repensado e cabe a cada um, de um modo especial, refletir a respeito de como agiria frente ao dilema do estudante de Direito no julgamento, que na verdade se torna uma questão vital na história e para a vida de diversas pessoas: a escolha do personagem foi, afinal, uma escolha de amor? Daqueles filmes memoráveis, que já pertencem à história do cinema e que nos deixam por um bom tempo, após o seu final, com fortes e relevantes emoções. Netflix. 10,0