O FRANCO ATIRADOR (THE DEER HUNTER)
Este filme ganhou os Oscars de Melhor filme, diretor, ator coadjuvante, montagem e som (cinco Oscars) e concorreu a outros quatro: ator, atriz coadjuvante, roteiro original e fotografia. A primeira constatação, após revê-lo depois de tantos anos, é de que felizmente mantém suas qualidades, seu impacto, as emoções, apesar de todo o seu tema girar em torno da “batida” guerra do Vietnã, sua crueldade e os efeitos perversos que causou na vida de muitas pessoas. Continua, portanto, com sua força e, pois, sendo um belo e permanente filme, apesar de terem-se passado mais de 40 anos de sua produção (é de 1978). E não é à toa: a história, dividida, pode-se dizer, em três partes (a vida dos amigos e comunidade antes da guerra, cenas da guerra e o retorno), é maravilhosamente bem contada pelo diretor Michael Cimino e magnificamente interpretada por um elenco magistral: Christopher Walken (Oscar de Ator coadjuvante), Robert De Niro (indicado ao Oscar de melhor ator), Meryl Streep (indicada ao Oscar de melhor atriz, praticamente no início da carreira), John Cazale, John Savage, George Dzundza, entre outros. O título em português não vou comentar, mas o original, “O caçador de veados” (ou “de corças” ou de “cervos” ou “de gamos”), é extremamente pertinente e significativo para a comparação dos fatos anteriores e posteriores à guerra e a lancinante mensagem. Na primeira hora do filme ficamos conhecendo a vida dos amigos (que trabalham na mesma fábrica de chaminés que soltam fumaça preta) e da cidadezinha da Pensilvânia, bem como dos principais acontecimentos que a movimentam: o casamento de um dos amigos -que após se casar embarca para o Vietnã (Savage)-, a ida para a guerra também de outros dois dos amigos (Walken e De Niro) e a caçada-despedida que esses amigos farão antes de viajarem, simbolizada pelo título do filme. Na segunda parte, temos as cenas da guerra propriamente dita, concentradas em poucos momentos, mas inesquecíveis e inclusive fazendo parte da história do cinema: os momentos tensos dos americanos e dos vietcongs naquela cabana de palha, ou precário local de subjugação e tortura, ficam em nossas retinas para sempre, fruto também da direção e das interpretações esplendorosas. Inolvidável! E a terceira parte, que harmoniza uma mensagem das mais contundentes (também sendo inesquecível a cena de Mike diante das belas galhadas, entre outras, como a de Nick ao final!), possui diversos contornos que agora não carece comentar e merece desfrutar quem assistir ao filme, mas mostrará algumas das consequências da guerra e as mudanças/transformações operadas no mundo daqueles pessoas. A música-tema é outro fato a merecer destaque, porque é belíssima, dramática, lírica, melancólica e John Williams é o autor da trilha sonora, sendo que os amigos em marcantes momentos são embalados pela linda e significativa Cant Take My Eyes Off You. Apenas um fato no final do filme ficou meio obscuro, pelo menos para mim: todos cantando à mesa -e sem qualquer ironia aparente- a bela e patriótica música Deus salve a América (God Bless America. 9,2