O APRENDIZ (THE APPRENTICE)

Este é um filme de 2024, dirigido pelo iraniano-dinamarquês Ali Abbasi (Holy Spider) e cujos protagonistas, merecidamente, foram indicados ao Oscar 2025 de Melhor ator coadjuvante: os excelentes e premiados, Sebastian Stan (A different man) e Jeremy Strong (Succession). Realmente é um filme muito bem feito e com direção e atuação perfeitas, além do ritmo envolvente. Acompanhamos a trajetória de Donald Trump, nas décadas de 70 e 80, época de Nixon e desde a fase anterior ao seu primeiro casamento (com Ivana) e ao seu boom de empreendedor; e o desafio é se saber, ao longo do enredo,  o que é realidade e o que é ficção. O título do filme é o nome do programa com o qual Trump, já magnata, fez por uma década grande sucesso na TV americana – 20 milhões de espectadores por semana – e que depois foi adaptado no Brasil com o mesmo nome, apresentado por Roberto Justus. Mas o que define este filme é sua falta de qualquer pudor em mostrar o Donald Trump da forma que muita gente imagina: alguém ambicioso, sem caráter e sem escrúpulos, portanto capaz de quase tudo para alcançar seus objetivos (megalomaníacos ou não), inclusive de aceitar várias espécies de corrupção, notadamente a praticada pelo grande escritório de advocacia que contrata: essa prática de bastidores, inclusive, serve para defender o personagem, no sentido de que não era um homem mau e que foi aos poucos sendo corrompido. O fato é que o milionário aparece ao longo de todo o filme como um ser humano desprezível, vaidoso, asqueroso, poço de ego e narcisismo e sem quaisquer limites para atingir seus propósitos. Nesse sentido e sob o ponto de vista dramatúrgico, até se torna irrelevante se o filme dramatiza a realidade ou a fantasia, porém não há dúvidas de que funciona muito bem como um veículo de contrapropaganda, ou seja, contra a candidatura de Trump, parecendo eloquente o fato de que o lançamento do filme ocorreu em outubro de 2024, um mês antes das eleições americanas. Dentro desse tema, chamam a atenção as cenas em que Trump passa por uma lipoaspiração (gordura do abdomen) e por um transplante capilar e também o esclarecimento dessas cenas pelo diretor Abbasi, que disse representarem “uma metafora visual do monstro de Frankenstein”. Pelo visto, todavia, se realmente foi intencional, a “campanha” acabou não deu certo. E seja como for, trata-se de uma produção bem realizada e desenvolvida e que alcança tudo a que se propôs. Merece também registro a última cena, pela sua perfeita adequação dentro de todo o contexto, nesse sentido sendo brilhante em sua idealização, realização e amplitude. 8,9