LISTEN UP PHILIP (CALE A BOCA, PHILIP)
Um filme como a natureza de seus personagens: intelectual. Diálogos inteligentes, ácidos até (o tom do filme é de comédia dramática), mas com uma densidade que não vai agradar qualquer público. O personagem principal é muito bem construído por Jason Schwartzman e nesse sentido é admirável, mas apenas aí, porque se trata de um exemplo crasso de ser humano arrogante, grosseiro, intragável, absolutamente egoísta e autodestrutivo e que por não se importar com nada mais a não ser ele mesmo, até nos choca pela absoluta franqueza com que trata qualquer pessoa, despido do mais elementar “traquejo social”. Muito bons os diálogos com o escritor mais velho e, portanto, mais sábio, Ike, interpretado por Jonathan Price e com quem o mais novo naturalmente se identifica. Interessante também a narração em off e que vai descrevendo os sentimentos e a profundidade dos personagens, como se estivéssemos lendo um livro e essa narrativa suprimisse as deficiências naturais do cinema diante da literatura. O filme investiga o vazio humano, criativo, existencial e o expõe pela fala e ação dos personagens, que são muito ricos principalmente no sentido de reconhecer seus fracassos e limitações e a miserabilidade do ser humano. Na verdade, o filme parece investigar a própria condição humana e tanto as dificuldades de mudança, quanto a esperança de que essas mudanças ocorram, o que parece ser inseparável de todos nós. Ótimas também a atriz Elisabeth Moss (de Mad men) e a direção de Alex Ross Perry. 8,0