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LAMB

Este é um filme estranho, mas – também por isso – extremamente original e bem feito e que fiquem desde logo claros dois aspectos: qualquer comentário mais a fundo ou conhecimento prévio dos fatos pode estragar algumas importantes surpresas (portanto, recomenda-se não ler qualquer material a respeito do filme antes de vê-lo) e se trata de um filme “de arte”, o que significa que não será apreciado por muitas pessoas. Aliás, na internet a cotação do filme varia de uma a cinco estrelas, tendo sido premiado em Cannes em 2021, na mostra paralela Un certain regard (Prix de l’originalité). O gênero do filme é drama com suspense e fantasia, este último fator já sendo uma dica para o espectador ficar preparado para qualquer coisa, mesmo bizarra. Alguns, entretanto, classificam o filme como um suspense/terror folclórico, inclusive por manusear com elementos ancestrais do ser humano, provocando instintos primitivos. O local da história é lindíssimo e a fotografia o valoriza à altura: um local remoto da Islândia, onde se cria basicamente ovelhas, próximo a um rio ativo e entre belas e gélidas montanhas. O elenco é pequeno mas ótimo, com mais uma segura e essencial atuação da versátil atriz sueca Noomi Rapace (Os homens que não amavam as mulheres). Além disso, em harmonia com a intensa trilha sonora, o som do filme (e segundo os mais entendidos a «edição/mixagem de som») é fator de grande importância, embora o grande destaque seja a direção (e edição): apesar de ser praticamente um estreante, o cineasta e roteirista islandês Valdimar Jóhannsson consegue transpor de maneira brilhante para a tela um roteiro difícil e que exige muita delicadeza no tocante a alguns aspectos. E o faz inclusive com grande habilidade de filmar os animais (no começo do filme esse fato já aparece com destaque), incluindo o cão de guarda da fazenda. Mas o grande mérito do diretor, além de conseguir passar de forma clara os diversos sentimentos dos personagens, é forjar um suspense muito difícil de realizar. O filme já começa desse modo e permanece com uma tensão latente durante todo o enredo. Contudo, nos últimos minutos é construído um suspense extraordinário e quase insuportável, como se o diretor tivesse tido aulas com os mestres no assunto, como, por exemplo, Alfred Hitchcock, que praticava o dito de que «o medo é maior por coisas que não se vê e que ativam nossa imaginação». Este é um filme lento, porém certamente perturbador, com muitas reticências e imagens, de cujo roteiro se pode extrair muita coisa, o que, aliás, é rotineiro em filmes não convencionais. Há diversas observações muito sagazes e que podem ser pesquisadas na internet depois de ver o filme, como, por exemplo, a observação de alguém sobre a importância (para a lacuna que o final deixa) de Ada ter aprendido o caminho de voltar para casa, guiada pelo barulho do rio! Mas o que se percebe e o que se sente do que é evidente, já tornam a experiência perfeitamente válida e conforme o gosto realmente um grande prazer cinematográfico. 9,0