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I´M THINKING OF ENDING THINGS

Charlie Kaufman é um roteirista muito respeitado nos EUA e conhecido por criar teses sobre a consciência, a memória, os relacionamentos, sendo autor de obras originais e nada convencionais, como Quero ser John Malkovich e Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Mas aqui provavelmente ele apresenta seu trabalho –como roteirista e diretor- mais difícil de ser entendido, que mais deixa o espectador órfão de explicações. Embora o filme comece e transcorra um bom tempo dentro de uma lógica e com fatos perfeitamente inteligíveis, a partir de um certo momento as cenas vão exigir do espectador não só uma atenção especial, mas também sagacidade, percepção, inteligência e talvez sensibilidade culturalmente dirigida para entender perfeitamente o que está se passando, para absorver de forma satisfatória todas as mensagens. Embora se possa intuir –e até seja claro pelo curso da história, pelos fatos intencionalmente colocados e pelo próprio histórico do diretor- que o que vai sendo mostrado tem uma conexão lógica e que a história tem um sentido compreensível, na verdade se apreender esse sentido totalmente é uma tarefa árdua e ao alcance de pouquíssimas pessoas. Tanto, que existem inúmeros textos e vídeos na internet (!), destinados a tentar explicar o filme aos espectadores que –como eu- não conseguiram, afinal, entendê-lo. Se bem entendido, o significado verdadeiro e integral poderá nos trazer bastante tristeza e melancolia, pela dor da solidão e das decorrências dela e do passar do tempo. É possível talvez até se entender –nesse caso sob o ponto de vista das referências vinculativas do diretor em relação a seus filmes- a certa semelhança entre o ator principal e Philip Seymour Hoffmann, que fez personagem de outro filme. Encontradas as explicações satisfatórias pode-se, de fato, tanto compreender vários detalhes do enredo (que são muitos mesmo), como também se apreciar a obra como algo realmente genial! Entretanto, é algo ousado, com cores muito surrealistas e que depende da disposição e do gosto do espectador, porque quando as imagens passam a ser simbólicas em demasia, a tendência é o cansaço e a desmotivação. Portanto, ousadia também da NETFLIX patrocinar um filme dessa natureza. O elenco é todo ótimo: a atriz e cantora irlandesa Jessie Buckley, o americano Jesse Plemons (que fez um papel em Breaking bad), o britânico David Thewlis e a veterana e excelente atriz australiana Toni Collette (O sexto sentido, Pequena Miss Sunshine). O filme tem um texto sobre dança, cinema, literatura muito interessante, sendo exemplos algumas frases: “A primeira lei de Newton da emoção é permanecer em um relacionamento nocivo”, “A criança é o pai do homem”, “Quando se é criança, os porões são assustadores”. De todo modo, certamente o filme nos traz emoções, sensações e nos impacta, mesmo que seja pelos sentimentos que temos diante do desconhecido (ao nos deixar com aquela sensação de reticências permanentes…) e por esse motivo, para muito, já vale a pena a viagem sensorial, sentimental e intelectual, ainda que não ofereça a habitual segurança. 8,0