HUNTER (HUNTER HUNTER)

Até uns 15, 20 minutos antes de terminar, este filme apresenta um roteiro totalmente coerente (exceto talvez por uma determinada cena à beira do rio), um ótimo suspense e sobretudo ótimas atuações do elenco, que na verdade praticamente se resumiu, pelo menos ate então, às três pessoas da família: o casal e a filha. Para quem gosta desse tipo de filme (suspense e tensão junto à natureza), trata-se de um agradável passatempo:  uma família mora no meio do mato, sobrevive da caça e venda da pele de animais diversos (castor, marta, raposa, guaxinim…), que comercializa em uma cidadezinha mais ou menos próxima (possuem uma camionete). Atenção: algum spoiler a partir daqui!  O pai ensina à filha tudo o que aprendeu na vida a respeito dos animais e das caçadas: como identificar e seguir pegadas, reconhecer o tipo do animal pelos excrementos, como fazer armadilhas, como usar um rifle, como tirar a pele de cada bicho etc. A mãe se integra perfeitamente àquela vida, porém já acha que a filha deveria estar na escola e não vivendo ali, como uma selvagem. A situação financeira da família está instável em razão da época do ano, existindo até o perigo da fome, quando de repente um animal perigoso voltou a rondar o local e esse fato começa a preocupar, criando a necessidade de caçá-lo. O cenário é daquele típico dos filmes de natureza canadenses, com florestas aparentemente tranquilas porém fechadas e com perigos invisíveis, cortadas por um rio ladeado de pedras, típico ambiente para o habitat de variadas espécies, inclusive havendo até notícia de ursos na proximidade. São aqueles paisagens ensolaradas, plácidas na aparência, mas que recomendam sempre se andar armado. Assim, o filme assume um clima de thriller, inclusive porque a qualquer momento pode surgir tanto o predador temido, quanto qualquer outro. O diretor explora com eficiência esse clima todo, bem auxiliado pela trilha sonora e o espectador é envolvido legitimamente na trama, pois tudo é bastante harmonioso, incluindo, conforme já enfatizado, a atuação do elenco, convincente e realista. Apesar de tudo isso, entretanto, a parte final do filme surge como uma quebra inexplicável! Algo estranho, sem explicação, que precipita fatos, muda comportamentos, sem outro propósito aparente que não o chocar e talvez visar à audiência: já havia surgido, a certa altura do filme, um fato surpreendente no enredo, entretanto deu-se continuidade a ele de uma forma abrupta e simplesmente sem qualquer justificativa!  É como se mudasse o roteirista ou surgisse do nada um outro filme. O equilíbrio é quebrado com extremo mau gosto, surgindo então cenas que conflitam com todo o cenário anterior e pior: eliminam do enredo a questão que até então vinha dominando todo o filme! Com a inserção da última parte, que lamentavelmente extirpou a continuidade da história inicial e tornou o filme um conjunto de cenas sem sentido lógico, o que era vinho se tornou vinagre e todas as qualidades de repente perderam o valor que tinham, pois postas afinal a serviço de algo desconexo e talvez meramente comercial. Realmente uma pena esse desperdício já quase no desfecho (e que naturalmente prejudica em muito o conceito final do filme). Entretanto, principalmente para os que gostam do gênero, ainda vale a pena aproveitar os bons momentos do filme (que são quase o filme todo, na realidade) e engolir na marra os seus lamentáveis instantes finais.  7,5