HIROSHIMA MEU AMOR (HIROSHIMA MON AMOUR)

Este não é um filme convencional. É inclusive estranho em muitos momentos e as ações dos personagens não contribuem nada para desfazer essa impressão inicial, assim como a trilha sonora. Mas, desde o início, sente-se a firmeza da direção, a performance segura dos protagonistas e a força do texto da dramaturga francesa Marguerite Duras, no qual se baseou o roteiro. Portanto, já se sabe que existe qualidade e que a estranheza é proposital e meramente questão de mensagem e/ou de estilo. Mas o que está envolvido não deixa de ser complexo e desafiar o espectador para pouco a pouco desvendar os sentimentos que emergem da tela. E eles então vão aparecendo com maior clareza, embora as palavras ainda contenham muitos códigos e mistérios. Certamente por conta da riqueza do texto e de um roteiro bem elaborado, embora tudo gire de forma indefinida e com muitas dúvidas e hesitações. Como o nome indica, o drama se passa na Hiroshima e na pós guerra, na verdade 14 anos depois da explosão da bomba A, portanto em 1959. Eji Okada é um ator muito bom, mas quem realmente se destaca é Emmanuelle Riva, que foi indicada ao Bafta por este filme e se manteve uma grande atriz ao longo de toda a sua carreira, com muitos prêmios e indicações, não sendo à toa que 53 anos depois deste filme ganhou o Bafta, Oscar britânico, aos 85 anos, pelo desempenho em Amour. O diretor é o francês Alan Resnais, que dirigiu mais de 50 filmes e foi considerado o decano da Nouvelle Vague. O premiado diretor (Noite e neblina, O ano passado em Marienbad, Amores parisienses, Medos privados em lugares públicos) – que morreu em Paris aos 91 anos, em 2014 –, em suma, aqui seguiu um caminho levemente intelectual para mostrar emoções humanas e como os sentimentos podem se modificar a ponto de transformar algo que nasceu para ser efêmero. O filme foi indicado ao Oscar 1961 (Melhor roteiro original) e à Palma de Ouro (Melhor filme) e algumas de suas imagens, provavelmente colhidas de reportagens de cinema ou TV, são talvez as mais chocantes e dolorosas mostradas pelo cinema e relacionadas com as vítimas sobreviventes da bomba atômica. 8,8