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FORD VS FERRARI

Os americanos têm um padrão que serve para um sem número de filmes. Seguindo esse padrão, não tem erro: o filme cairá no gosto do público. São detalhes que vemos se  repetirem cansativamente em dezenas de produções, desde a escolha das músicas (e os momentos para provocar a emoção correta), os closes no rosto dos atores/atrizes (no mínimo um deles famoso, para atrair bilheteria), os conflitos e as cenas familiares sempre iguais, as relações de casamento e também de pai e mãe com os filhos (leia-se família unida) –tudo na hora certa, naturalmente-, as evocações de lealdade e caráter, de superação, de patriotismo, com a bandeira americana tremulando etc. Até a maneira como os atores dizem certas frases é repetida exaustivamente, bem como a expressão facial e os tiques, pois a experiência já sabe o que faz sucesso. É como, por exemplo, aquela cena mais do que manjada, em que “somente ele pode resolver nosso problema” (questão de alta relevância nacional naturalmente), sendo que “ele” no início sempre resiste ao chamado (porque não deseja mais voltar à ativa), mas depois de um charminho acaba aceitando a missão. São estereótipos cansativos para o cinéfilo, não só porque tornam as coisas previsíveis, mas porque manipulam e também porque não retratam a realidade como ela é (principalmente quando se trata de mostrar a superioridade ianque sobre outros países). Esse é o lado negativo de filmes desse tipo e no qual este se inclui e que realmente irritam, remetendo quem gosta de cinema para outras paragens (filmes europeus normalmente). Contudo, o pleno domínio da técnica cinematográfica (que temos que reconhecer) e o interesse de alguns roteiros, acabam colocando os clichês em segundo plano e por muitos momentos ficam esquecidos. No caso deste filme, o interesse acaba se concentrando na história real que é contada – resgatadas com algumas cenas as velhas emoções dos filmes de corrida – e que envolve as disputas automobilísticas e um monopólio que se pretendia quebrar: os italianos da Ferrari eram campeões recorrentes das corridas de carros, inclusive da famosa “24 horas de Le Mans”, prova referência, quando a grande potência que era a Ford (mas não nas corridas) cismou em não apenas fabricar um carro competitivo, mas vencedor. Essa é a atração maior do filme e que emociona, pois passamos a acompanhar passo a passo os preparativos para a fabricação desse carro, os ajustes, os problemas enfrentados, todas as dificuldades e questões técnicas (motor, freios, tanque de combustível, pneus…), para depois “participarmos” da própria corrida -claro que aqui temos que tolerar o “chavão” do piloto certo que de início é recusado pela poderosa empresa…Mas o filme traz várias cenas ótimas e conta em muitos pontos fatos verdadeiros, inclusive quanto ao piloto protagonista. Uma das cenas marcantes é a do “passeio de carro de Mr. Ford II”; outras, são cenas, muito bem feitas e empolgantes, da própria corrida. Também é fato que Christian Bale concorreu no Globo de Ouro como Melhor Ator (e o fato poderá se repetir para o Oscar), o que não ocorreu com seu simpático e sempre eficiente parceiro/ator, Matt Damon. No final, o saldo é positivo e alguns mais aficcionados provavelmente vão adorar o filme.  8,0