DESEJOS PROIBIDOS (THE EARRINGS OF MADAME DE…)

Este é um filme de 1953 e surpreendente por vários fatores: é leve e dinâmico, tem belas interpretações, um roteiro muito curioso, uma direção consistente, belos figurinos, competente direção de arte e uma fotografia destacada (são fabulosos os movimentos de câmera). É uma obra conceituada por muitos como uma das grandes produções da época, embora seja pouco comentada nos dias de hoje. A história enfoca Paris, nas últimas décadas do século 19, no mundo de carruagens, óperas, luxo, polidez e elegância, clubes de esgrima, caça à raposa, salões de baile e adúlteros refinados, de muita hipocrisia envernizada e vazios burgueses e aristocráticos disfarçados. O diretor é o requintado alemão Max Ophüls (Carta de uma desconhecida, O prazer, Lola Montes, Na teia do destino), que trabalhou na Alemanha, mas também muito na França e nos EUA. A trilha sonora é bonita e adequada, sendo geralmente discreta; entretanto, talvez em alguns momentos seja excessivamente dramática. Em resumo, um filme que chama a atenção por sua qualidade e harmonia e todos os cuidados de produção, tendo no elenco o elegante ator Vittorio de Sica, que também se notabilizou como diretor de grandes filmes, como Vítimas da tormenta (1946), Ladrões de bicicletas (1948), Umberto D (1952), Duas mulheres (1960), Ontem, hoje, amanhã (1963), O jardim dos Finzi-Contini (1970), cujo personagem “duela com estilo” com o de Charles Boyer (Tudo isto e o céu também, À meia luz), ator com mais de 80 filmes entre as décadas de 20 e de 70. O título em português, “Os brincos de Madame…”, denuncia o foco central do enredo, em relação ao qual todos os fatos giram, se espalham e se concentram. Na verdade, os brincos é que orbitam em torno da trama e nos fazem rir intimamente com as ironias do destino. 8,8