CRIMES E PECADOS
Este filme é de 1989, portanto anterior a Match point e Vicky Cristina Barcelona. Aqui Woody Allen já acentuava sua preocupação com os dilemas da existência, do ser e viver, da criação religiosa e da regência do Criador. Mostra a infância de um dos personagens, povoada e aterrorizada por ensinamentos religiosos (que iriam permanecer muitos e muitos anos em sua vida – e aqui o ponto vital do filme: a culpa…será ela permanente???) – Deus é um olho que tudo vê, os virtuosos serão premiados e os pecadores punidos…Mas, muito mais do que isso, junto com seu tema central, o talentoso diretor fala também de dilemas morais e éticos e o filme nesse contexto é interessantíssimo, com atuação excelente de Martin Landau (que os fãs de Missão Impossivel, a série, conheciam como o “homem do disfarce” e que faz o oftalmologista bem sucedido) e ainda Anjelica Huston, entre outros. Um excelente estudo, com todas as qualidades técnicas e corriqueiras dos filmes de Allen. Ocorre que há uma história paralela, com Mia Farrow e Alan Alda, estrelada pelo próprio Woody – que faz um produtor/cineasta de documentários, com foco especial em um filósofo contemporâneo e seus pensamentos sobre a vida. Nessa história paralela outras questões são discutidas, envolvendo o amor pelo Cinema e o papel dele na vida das pessoas, desde a infância, a mídia, o mito sobre se o sucesso e o dinheiro vencem o talento etc. O cineasta deu uma entrevista recente, dizendo que talvez devesse ter suprimido a história paralela e ficado apenas com a de Martin Landau. Concordo plenamente! Se o tivesse feito, o filme teria outro gabarito, pois a atuação de Woody, na minha opinião, torna as coisas caricatas – a nota que dei para o filme tem esse motivo e também o de ser para mim uma reprise. De todo modo, fica o belo e coerente pensamento do final do filme, que é extenso, mas que em suma declara nosso livre arbítrio e que, afinal, “ Nós somos todos a soma das nossas escolhas”. 8,2