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CREPÚSCULO DOS DEUSES (SUNSET BOULEVARD)

Outra belíssima obra cinematográfica e que certamente está colocada entre as melhores produções noir. Feito em 1950, tem um ótimo título em português, ao contrário da grande maioria dos casos. Seu título original faz menção à rua da residência da protagonista, interpretada pela atriz Gloria Swanson, que aqui se mostra em parte caricata no papel, mas de forma proposital (em razão da personagem que representa): uma famosa atriz do cinema mudo e que se encontra na decadência da meia idade, incapaz de aceitar o fato e o esquecimento do público que tanto a venerou. Esses fatos, bem como os vários casamentos que teve a personagem, são elos em comum com a vida real da atriz (que teve 7 maridos), que entre 1915 e 1930 participou de dezenas de filmes e foi muito famosa na época do cinema não-falado. Outra homenagem ao cinema mudo é a participação no filme de alguns artistas famosos daquela época: Buster Keaton, H.B. Warner e Anna Q. Nilsson. Aqui, as ilusões de Norma Desmond são alimentadas por ela mesma e pelo mordomo fiel, interpretado muitíssimo bem pelo ator Erich Von Stroheim. O filme é narrado em off, a partir de um assassinato em sua cena inicial e seus grandes temas iniciam a partir da aparição e das ações do personagem de William Holden, excelente ator e que faz um roteirista à procura de um lugar no mundo do cinema. Aliás, esse mundo é objeto de várias críticas singelamente postas no roteiro, que mostra que Hollywood usa o que muitas vezes em seguida descarta, em síntese, que, como disse alguém, “Hollywood é para poucos”. Esse é um ponto vital do enredo, que primorosamente discorre, entre outras temáticas, sobre o envelhecimento e a solidão, de forma ora suave, ora absolutamente melancólica. Como também aborda questões éticas e morais, que inclusive angustiam o personagem de Holden, relacionadas ao mito da “venda da alma ao diabo”. Uma frase fundamental, dita por Joe Gillis “Nada há de trágico em ter 50 anos, a menos que se deseje ter 25”. Com a participação da ótima Nancy Olson e a presença especial do cineasta Cecil B. DeMille, um dos fundadores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (e diretor de Os 10 mandamentos, Sansão e Dalila, Cleópatra, O maior espetáculo da terra…), o filme tem ótima direção de arte, trilha sonora, excelente elenco e um rico roteiro, tendo recebido 11 indicações ao Oscar de 1951. Ganhou nas de Melhor roteiro, Melhor direção de arte e Melhor trilha sonora e também foi premiado no Globo de Ouro, nas categorias de Melhor filme, Melhor diretor, Melhor atriz e Melhor trilha sonora. Dirigido pelo sempre brilhante Billy Wilder, que, entre outros, nos legou Quanto mais quente melhor, Se meu apartamento falasse, Pacto de sangue, Testemunha de acusação, Farrapo humano. O pecado mora ao lado, Irma la Douce, A montanha dos sete abutres, Inferno número 17. Um filme tocante e, conforme a sensibilidade do espectador, extremamente triste, sentimentos que mais ainda comprovam e enaltecem sua inegável qualidade e a permanência de sua força. 9,0