UM BONDE CHAMADO DESEJO
Não é um filme do qual todos vão gostar e nem para qualquer ocasião. Porque é pesado dramaticamente, forte, difícil, impactante. Como o são os textos do mais famoso dramaturgo americano do século XX, Tennessee Williams. E esses textos são um desafio para os atores que os interpretam. Aqui, neste filme de 1951 dirigido por Elia Kazam, brilham principalmente Marlon Brando – em seu segundo filme – e Vivien Leigh, em duas atuações memoráveis na história cinematográfica. Por injustiça, Marlon não ganhou o Oscar. O título em inglês é A streetcar named desire e em português “Uma rua chamada pecado”, o qual não é tão ruim, mas retira toda a sutileza do título original, que é inclusive o da obra de Tennessee. No teatro, foi a peça interpretada pelo mesmo elenco, com exceção de Vivien Leigh, que entrou no lugar de Jessica Tandy. Foi indicado a 11 Oscar em 1952 e ganhou 4: melhor atriz (Vivien), melhor atriz coadjuvante (Kim Hunter), melhor ator coadjuvante (Karl Malden) e direção de arte (Richard Day). Marlon Brando perdeu o Oscar para Humphrey Bogart (Uma aventura na África) e o filme perdeu o prêmio para Uma sinfonia em Paris. Mesmo assim é uma obra absolutamente marcante e o personagem magnificamente bem interpretado por Viven Leigh (a eterna Scarlet OHara de E o vento levou) para mim é um dos mais profundos e ao mesmo tempo tristes do cinema (uma alma em calvário, atormentada pela realidade e presa das ilusões). Muito importante é saber que em razão do famigerado Código Hays (que regulou a moral dos filmes no cinema americano por quase 40 anos a partir de 1930), o roteiro da peça de Williams teve que ser alterado em algumas cenas e em alguns de seus pontos essenciais, sob pena de não poder ser adaptado e o filme exibido. A Legião da Decência, criada por católicos fanáticos em 1933, inclusive ameaçou embargar o filme, classificando-o como “condenado” (status C), caso closes não fossem cortados, cenas extirpadas, outras modificadas…até a trilha sonora, tida como muito carnal, foi substituída…Mesmo assim, há cenas que provocaram grande choque na época, o filme foi tido como audacioso (inclusive o personagem de Marlon, mostrando o corpo e uma “força da natureza” inovadores) e a trilha sonora destacou-se pela evidente sensualidade. Para a época um grande impacto. Hoje, ainda se sente claramente a sua força e a influência de Marlon nas gerações que se seguiram. 8,7