CINZAS

Este é um drama turco – com direção e elenco turcos – que apresenta muito mistério e suspense, com uma intencional atmosfera mágica, meio onírica e que desde seu início revela a intenção de transportar o espectador pelos tênues limites entre a realidade e a fantasia. Culminando em um final que desafia a inteligência, ou a perspicácia, ou a imaginação e a criatividade. Exige reflexão lógica. O roteiro navega sobre águas nem sempre transparentes e claras e o espectador muitas vezes se vê às voltas com mistérios e com perguntas sem respostas imediatas. Mas nada se compara à interrogação que as duas últimas cenas deixarão. E embora tais fatos na verdade constituam um mérito do filme, afinal é algo inteligente e criativo em meio à mediocridade, o que soa para a maior parte do público é algo sem nexo, sem sentido, uma colcha de retalhos enigmática e irresponsável, que deixa apenas um emaranhado de fatos soltos e sem uma adequada conexão. Em busca de diversão fácil e direta, a maior parte do público tem ficado frustrada e insatisfeita com a falta de respostas diretas às perguntas que vão sendo elaboradas ao longo da trama; e com o final que não elucida de forma clara. Mas quem tiver paciência e sensibilidade para obras mais “fechadas”, menos explícitas – embora não menos poéticas – poderá extrair de tudo um sentido atraente ou ter a percepção afetada pela inteligência que sustentou toda a história e que propositadamente a costurou e desencadeou todos os fatos, inclusive as duas últimas cenas, concluindo que se trata de um trabalho diferente porém muito bem realizado e que pode inclusive permitir que o espectador siga, ao final, duas e até três correntes de pensamento, para interpretar os fatos de uma maneira mais livre, sem saber com exatidão e plena certeza qual foi a verdadeira intenção de quem escreveu a história. Como já frisado, nos dias de hoje em que imperam produções medianas ou sem imaginação, este filme é um perfume que pode inebriar. Produção Netflix. 9,0