BOLA DE FOGO (BALL OF FIRE – 1941)

Pode-se dizer que este filme é “daquelas gostosas e características comédias antigas”. O título se relaciona com o trabalho do Professor Potts e sua equipe: elaborar um dicionário completo (e todas as decorrências palpitantes desse fato). Uma delícia de filme, leve, ágil, divertido, inteligente, ácido. Daqueles com diálogos rápidos e sagazes, vários personagens interagindo de forma afinada em incessantes ações, cada qual com seu tipo e papel, as coisas acontecendo meio non sense, mas repletas de riquezas, de roteiro, de direção e de performances. Feito aqueles filmes de Frank Capra, de Billy Wilder, que, por sinal, é produtor desta comédia estrelada entre outros por Bárbara Stanwyick e Gary Cooper e que também tem Dana Andrews e um grande elenco. Ela, uma das divas do cinema de todos os tempos, ele um galã dos considerados conquistadores, à la Clark Gable. A novaiorquina Barbara, que fez 86 filmes e morreu em 1990, sempre foi versátil e interpretava com realismo seus papéis, inclusive no início de sua carreira e aos 26 anos tendo estrelado e brilhado no polêmico “Serpente de luxo”: teve uma longa e produtiva carreira, com diversos sucessos como “Pacto de sangue”, “Sangue do meu sangue”, A vida por um fio”, foi a anfitriã de famoso programa na TV (de episódios independentes) com o seu nome, era a mãe da família da série de faroeste Big Valley e aos 76 anos de idade ainda tinha energia para esbanjar talento dramático na série “Pássaros feridos”. Já o também premiado galã Cooper, nascido em Montana e falecido em 1961, fez mais de 100 filmes, tendo se destacado nos faroestes, mas transitando às vezes pelas comédias, como é o caso: atuou em filmes como “Matar ou morrer”, “Sargento York”, “Vera Cruz”. “Amor à tarde”, “Por quem os sinos dobram”, “O galante Mr. Deeds”, “Adorável vagabundo”. Chamava a atenção pela sua beleza máscula e pelo seu carisma, que conseguia harmonizar com a altura de 1,90m. Os dois são uma atração à parte neste filme repleto de atores e atrizes experientes e de excelência. E temos Dana Andrews (1909-1992), que também fez muitos filmes, entre os quais “Laura”, “Os melhores anos de nossas vidas” e “Suplício de uma alma”. A cena em que Barbara tira a meia ao lado de um Cooper atônito e constrangido deve certamente ter provocada muita celeuma naquele início dos anos 40. E o mérito não é só dos dois, como no restante do filme: o diretor foi Howard Hawks (1896-1977), que dirigiu praticamente todos os grandes atores e atrizes de Hollywood e realizou obras dos mais variados gêneros (sendo ainda montador, roteirista e produtor), como policiais, westerns, comédias, musicais, filmes de guerra etc. Exemplos de sua vasta e rica filmografia: “Scarface, a vergonha de uma nação”, “À beira do abismo”, “Rio vermelho”, “Levada da breca”, “Jejum do amor”, “Onde começa o inferno”, “Os homens preferem as loiras”, “O inventor da mocidade”. Um ótimo entretenimento, mas, claro, que pede que o espectador de hoje se transporte para a década de 40, com seus costumes (e recato), sua moral etc. Feito isso ou se entregando ao contexto todo e à magia do gênero, a diversão estará mais do que garantida! 8,9

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