APOCALYPSE NOW

Um longa-metragem sobre a guerra do Vietnã, dirigido por Francis Ford Copolla e que estreou em 1979, após três anos de produção e vários anos depois que o diretor havia sido consagrado pelo O poderoso chefão I e II (respectivamente de 1972 e 1974). Não é uma obra para todos os gostos, pela violência e densidade (em diversos sentidos) que traz. Mas para os que se aventurarem, a viagem (um boat movie, como alguns definiram!) será inesquecível, inclusive porque este filme para muitos é o melhor filme de guerra ou sobre a guerra de todos os tempos e consta em várias listas como o melhor filme da história do cinema. Realmente é um filmaço, digno dos maiores elogios e em todos os sentidos. Tanto no aspecto cinematográfico (fotografia, som, trilha sonora etc), quanto no da própria produção, o filme se tornou uma lenda, um ícone. Sobre a produção, além de levar vários anos, existem acontecimentos realmente memoráveis: o filme foi feito nas Filipinas e não em estúdio e não utilizou praticamente efeitos especiais, portanto utilizando toda uma parafernália, incluindo inúmeros helicópteros do exército americano; o custo para a época foi enorme, na casa de 30 milhões de dólares, sendo que mais da metade saiu do bolso do próprio diretor; as câmeras aproveitaram todos os momentos para filmar, totalizando mais de 300 horas de filme, para serem editadas e virarem uma obra de menos de 3 horas; grande parte dos cenários teve que ser reconstruída após ser destruída por um tufão; o ator que iniciou as filmagens foi logo substituído, por ter sido considerado como inadequado; o ator Martin Sheen, que afinal protagonizou o longa, ficou afastado vários dias do filme em razão de ter tido um ataque cardíaco em meio às filmagens; conta-se que algumas cenas foram filmadas com os atores fora de seu estado normal, o que não é difícil de acreditar, assistindo-se ao filme e à loucura que apresenta. A partir de Saigon, em 1969, o capitão Willard recebe como missão a de navegar pelo rio Nung acima, em um barco patrulha da Marinha, atravessando o Vietnã e chegando no Camboja, onde deve localizar e “terminar com o comando” do Coronel Kurtz, que teria enlouquecido e organizado sua própria tropa, no meio da selva e da guerra. No dizer dos oficiais que entregaram tal missão (especialmente do personagem de Harrison Ford, que só aparece nessa cena), o homem enfrenta conflitos morais e entre o mal e o bem muita vezes prevalece aquele, sendo fácil para alguém entre nativos considerar-se simplesmente “Deus”. A partir de então começa uma saga impressionante, mostrando o mundo da loucura que é a guerra ou que transforma a cabeça dos seres humanos em insanidade, sendo exposta a degradação moral que levou os EUA à derrota no Vietnã, nesse ponto o filme apresentando na voz do Coronel (em sua porção final) as notícias propagadas pela mídia e governo americanos, tentando convencer a população de que a derrota dos vietcongs já era praticamente fato consumado! No percurso, enquanto o capitão vai lendo aos poucos o dossiê de Kurtz e se surpreendendo com o nível atingido pelo mesmo dentro do exército, são expostos fatos absurdos, atordoantes e até psicodélicos: soldados drogados, soldado que faz surfe no próprio rio de guerra, show de supostas coelhinhas da Playboy, residência francês requintada em meio à selva (onde o diálogo é excelente, sobre a Indochina e sobre vitórias e derrotas de guerra, de EUA e França !) etc, mas uma das cenas inesquecíveis do filme é a do ataque dos helicópteros, comandados pelo oficial insano (interpretado pelo excelente Robert Duvall) sob o embalo da Cavalgada das Valquírias, da ópera de Wagner. Na parte final do filme um outro universo surge, continuando o clima de loucura ou até sendo intensificado, quando o capitão encontra, afinal, o Coronel Kurtz. Aqui, embora de não tão longa duração, os momentos serão inesquecíveis, tanto em termos de roteiro, quanto de interpretação, porque Marlon Brando realmente consegue em poucas cenas representar o que na visão de seu próprio personagem define tudo: “o horror”. Uma performance inesquecível e que rendeu ao excêntrico ator a “bagatela” de 3 milhões de dólares à época. Difícil esquecer o paralelo com a cena do sacrifício do animal e a leitura que o Coronel faz do poema “Os homens ocos”, de T.S. Eliot. Um filme daqueles que não se imagina seja algum dia igualado, por esse motivo repudiando-se quaisquer refilmagens ou novas “leituras”. Ganhou a Palma de Ouro (Cannes, 1979), o Globo de Ouro de Diretor, Ator coadjuvante (Duvall) e Trilha sonora e foi esnobado no Oscar, recebendo apenas as estatuetas de Melhor fotografia e Melhor mixagem de som (perdeu o Oscar de Filme, Roteiro adaptado e Direção para Kramer x Kramer).  Uma obra-prima, em síntese.  10,0