AFERIM !

093138.jpg-r_160_240-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxChama a atenção, de início, a bela fotografia em preto e branco. Até porque o filme é de 2015. Mas foi logicamente opção do diretor, para caracterizar melhor o clima da época, pois o filme se passa em 1835, na província histórica da Valáquia (disputada por séculos pelos turcos otomanos, que desejavam dominá-la como já haviam feito com outros territórios e ali encontravam grande resistência). E é, de fato, um filme diferente, bem fora do trivial. Porque é romeno e é uma viagem, nos dois sentidos, já que, primeiro, trata-se de algo inusitado para os nossos tempos e, depois, os dois personagens principais, pai e filho, policiais, percorrem boa parte da área rural do país em busca de um cigano (escravo ou “corvo”) foragido. Esse enredo serve de propósito para mostrar os costumes da época e a movimentação e os conflitos (ódio também) étnicos. A origem de preconceitos, inclusive. Há diálogos bem interessantes, com vários provérbios sendo citados e também onde os personagens discorrem sobre as origens dos ciganos (“negros vindos do Egito”), dos judeus (“bebem o sangue das crianças cristãs”), sobre as invasões e atrocidades russas, inclusive havendo uma interessante definição dos demais povos conhecidos na época, por exemplo, “hebreus leem muito, gregos falam muito, árabes têm muitos dentes, turcos têm muitas esposas, alemães fumam muito, húngaros comem muito, russos bebem muito, ingleses pensam muito, franceses gostam de moda, armênios são preguiçosos, italianos mentem muito, ciganos apanham muito…”. Na verdade, o título do filme é uma interjeição que significa em romeno “Bravo !”, porém no sentido mais irônico. Radu Jude ganhou o Urso de Prata de Melhor Diretor no Festival de Berlim e o filme o Prêmio Cidade de Lisboa de Melhor Longa Metragem, ambos neste ano de 2015.  8,0