ADRIFT (VIDAS À DERIVA)

Sobre o título em português, mais uma vez cabe registrar que o distribuidor (ou agregado) não se conteve e infelizmente transformou o que era perfeito em banal, acrescentando ao “À deriva” a expressão “Vidas”. Entretanto, seja como for, o título deste filme da Prime seria um perfeito spoiler se não fosse já a primeira cena, na qual aparece o veleiro recém-acidentado, acumulando água em seu interior e no meio dos objetos bagunçados e flutuando, a protagonista recuperando a consciência, ferida e assustada diante do iminente naufrágio. E a partir daí passamos a acompanhar com ela os fatos do presente e em flash backs, ao longo de todo o filme, os acontecimentos dos dias e semanas anteriores. Essa convivência de presente e passado, diga-se, acontece de um modo bastante harmônico, o que é também um mérito do filme. E embora a história seja relativamente simples, seus limites físicos e o fato de se basear no que realmente ocorreu, exigem muito cuidado e perfeição para dar verossimilhança e tornar realista a narrativa. As referências iniciais já indicam que o filme se baseia em fatos reais e isso se confirma nos créditos finais, quando algumas informações a mais são trazidas, juntamente com as fotografias dos personagens que efetivamente protagonizaram a aventura. Mas, apesar da simplicidade, o drama tem força no roteiro bem construído e envolvente, mas fundamentalmente no trabalho da atriz Shailene Woodley, que sem dúvidas se destaca entre as top da nova geração (Divergente, A culpa é das estrelas, The spectacular now) e que aqui apresenta uma performance extraordinária e decisiva para o êxito do filme: é um papel difícil, que exige não apenas ótimo desempenho físico, mas principalmente dramático, porém muito bem dosados, para passar ao espectador as cores exatas da verossimilhança. E isso ela alcança de um modo realmente brilhante, inclusive pela feliz parceria com o bom ator britânico Sam Clafin (Como eu era antes de você). O enredo navega muitíssimo bem também por conta da direção do islandês Baltasar Kormákur (Everest, Reykjavik), da edição e das filmagens muito bem feitas (ótimos efeitos) e que dão todo o realismo aos fatos, principalmente nas situações de tempestades. O roteiro é sensível, equilibrado e possui também uma porção romântica e outra, breve, musical, mas que merecem também ser destacadas. Um drama forte, com ação, aventura, romance e que a dezessete minutos de seu final talvez surpreenda, com um fato que tanto o valoriza, como distingue a realidade da criatividade, isto é, o que é real do belo, livre e ilimitado exercício da arte cinematográfica.  8,7